sábado, 30 de março de 2013

A Coluna Prestes em Ipu - Parte III



Principais Lideranças da Coluna Prestes. Fonte: http://ijuisuahistoriaesuagente.blogspot.com.br


Esclarecido sobre o quê foi a Coluna Prestes, voltemos à cidade de Ipu, às 5h15 do dia 13 de janeiro de 1926. 
Reinava um silêncio nas imediações da Igrejinha, na praça São Sebastião. Algumas portas do casario começavam a se abrir. Logo que o bando tomou contato com a população, percebeu que a cidade não estava preparada para atacá-los. O que os deixou apreensivos foi aquela bandeira vermelha hasteada no alto da Igrejinha. Pensavam tratar-se de um sinal de que a cidade resistiria a sua chegada, mas logo souberam que a localidade estava festejando o seu padroeiro, São Sebastião, e que aquela bandeira não passava de um símbolo tradicional dedicado ao santo.
Só então o bando seguiu em direção ao Mercado Público. Neste, um daqueles que compunham o grupo, talvez o seu líder, se dirigiu a uma bodega onde uns “cabras bebiam” e perguntou a um deles onde ficava a Estação Ferroviária, no que respondeu apontando o dedo em direção à atual rua Cel. Felix Martins.
Rumaram então para a Estação Ferroviária, destino buscado na cidade. Apossaram-se do telégrafo e enviaram avisos à Camocim, Sobral e Fortaleza, dizendo que forças pomposas desceriam a Serra de Ibiapaba, atacariam Sobral e Camocim e rumariam para Fortaleza. O pânico alastrou-se entre as populações destas localidades.
Em seguida, o destacamento se apossou da locomotiva estacionada no local, derrubou postes e arrancou trilhos, cortando assim, a comunicação com outras localidades com o objetivo de impedir a vinda de forças legalistas pela via férrea.
Ali, ao lado da Estação, o bando acampou. A Estação passou a ser o quartel general do 2º destacamento da Coluna Prestes. Os homens precisavam descansar, pois haviam percorrido um longo percurso desde Teresina, no Piauí. Seguiram em sua marcha passando pela cidade de Alto Longá, no dia 6 de janeiro, Campo Maior a 7, Pedro II a 10, e daí partiram para a cidade de Ipu.
João Alberto encontrou entre os papeis telegráficos da Estação uma mensagem enviada pelo deputado Manuel Sátiro, destinada ao coletor federal de Ipu, João Bessa Guimarães. Pedia, na mensagem, que João Bessa, com a ajuda do destacamento policial local e de grupos civis armados, impedisse a entrada dos revolucionários na cidade. Diante disso, João Aberto solicitou a presença de João Bessa e que este se explicasse no que teria respondido que o povo de Ipu é pacato, não tinha costume de lutar com armas e que a prova estava na gentileza com que a Coluna foi recebida, principalmente por seu comandante tratar-se do irmão do saudoso e amigo do Dr. Apolônio de Perga Bandeira de Barros, juiz de direito da Comarca no período de 1920-1922.
As palavras de João Bessa sensibilizaram o Tenente-Coronel e as relações entre os munícipes e as forças da Coluna a partir dali, transcorreram num clima de cordialidade.
João Alberto fez questão de seguir até o cemitério, acompanhado de João Bessa, para visitar o túmulo do irmão.Em seguida, solicitou às autoridades fundos para a Coluna, uma vez que dependia de fontes de abastecimento para manter-se e fez questão de esclarecer que a tranquilidade da localidade não seria quebrada. O Cel. José Aragão, presidente do Banco do Brasil, foi solicitado a declarar o saldo da instituição. Logo lhe foi requisitado a quantia de 16.000$000 (dezesseis Contos de réis) dos quais forneceu recibo. Joaquim Lima, grande comerciante local e presidente da Associação Comercial de Ipu, “contribuiu” com a quantia de 6.000$000. Outras pessoas contribuíram com quantias que, no final, somaram (todas) a bagatela de 25 contos de réis.
João Alberto solicitou que Joaquim Lima abrisse as portas de seu estabelecimento comercial para proceder a vendas ao destacamento, no que foi atendido. Foram gastos 5 contos de réis, devidamente pagos. Entre as aquisições estavam 3 mil balas de Winchester, conhecido no Ceará como rifle ou papo-amarelo.
Muitas residências de Ipu acolheram os revoltosos, dando-lhe guarita e comida.
No Nordeste, o objetivo da Coluna era chegar a Pernambuco. Passariam pelo Ceará, onde Manuel do Nascimento Fernandes Távora, irmão de Juarez Távora, preparava um levante na capital. Os planos foram por água abaixo ante a repressão empreendida por Artur Bernardes. Em Fortaleza, o jornal oposicionista A Tribuna, de Fernando Távora, que fazia propaganda da Coluna e atacava o governo, foi fechado e seu dono rumou para o exílio na Europa. No Piauí a repressão aos revoltosos foi intensa.
João Alberto, com cem homens partia para o Ipu, com o objetivo de se apossar dos referidos mapas e realizar um “falso ataque” contra a cidade. Deveria, ao se apossar do telégrafo, enviar falsos telegramas dando conta de que a Coluna Prestes, com intensa mobilização de homens, atacaria Sobral, Camocim e Fortaleza. O Objetivo era desviar a atenção das forças legalistas e amedrontar a população destes locais. E assim se fez.
Continua...
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