terça-feira, 2 de abril de 2013

A Coluna Prestes em Ipu - Parte VI (final)



Membros da Coluna. Fonte: http://semtiragem.wordpress.com

A coluna como a “encarnação do diabo”


Logo a Coluna Prestes, na visão popular, passou a ser vista como a verdadeira encarnação do diabo, a imagem do satanás. Os mais religiosos se entregavam às orações pedindo perdão e consolo. Muitas faziam promessas a São Sebastião para livrar-lhes da Coluna Prestes e, portanto, do demônio, visto ser ela identificada com o próprio capeta. A forma como andavam os revoltosos contribuía para aumentar a imagem negativa que a população fazia deles. Os “rebeldes” trajavam uniformes diferentes uns dos outros, com uma gola formada por um lenço avermelhado, às vezes escondendo o rosto e com tiras longas também avermelhadas que partiam do chapéu e caiam nos ombros. Aquela imagem, para parte da população, só poderia ser do capeta.
A Coluna Prestes estava encoberta por histórias de terror e violências que a propaganda governamental se encarregava de espalhar. O temor sentido pela população era apenas a face mais visível do episódio. Os exageros ampliavam o medo. O Terror, o assombro e o medo tomaram conta da população local. Antes da chegada da Coluna, era só o que se falava entre aqueles que não fugiram da cidade.
Várias situações cômicas são relatas por aqueles que viveram o episódio. Uma delas reza que um homem amedrontado e que saiu às pressas de casa em fuga e com ele levou sua rede. Disparou em carreira. Ao passar pela Estação Ferroviária, os punhos da rede prenderam em uns “pés de mufumbo”, muito comuns ali. O assombro do cabra foi tal que, pensando que fossem os “revoltosos” a segurar os punhos de sua rede, gritava: “me solte, não me machuque, não me matem pelo amor de Deus!” Foi então que alguém que passava gritou dizendo-lhe que se acalmasse, que era apenas a sua rede que ficara presa em um toco.
Em outros relatos, mulheres pobres que moravam no alto do cemitério velho e que diariamente iam ao Riacho Ipuçaba buscar água, estavam tão amedrontadas, que bastava alguém gritar próximo a elas para disparar e deixar cair de suas cabeças os potes de barros com água.
Todo o imaginário popular construído em torno da Coluna Prestes, como algo negativo e sobrenatural, foi se dissipando na medida em que a cidade tomava contato com os “revoltosos”. A maneira como se portaram e a forma educada como se dirigiram às autoridades locais e, ainda, o respeito no trato com a população local, jogaram por terra a visão profética e a encarnação do mal que pairavam sobre os rebeldes comandados por Luís Carlos Prestes.

Saiba Mais...

João Alberto Lins de Barros
Nasceu em Olinda, Pernambuco, em 16 de junho de 1899, filho do Dr. Joaquim Cavalcanti Leal de Barros e de D. Maria Carmelita Lins de Barros, sua segunda esposa. Foi oficial do exército e tenente, quando aderiu ao movimento revolucionário no Rio Grande do Sul. Com a “Revolução de 1930”, foi interventor federal no Estado de São Paulo, chefe de Polícia do Distrito Federal (Rio de Janeiro), deputado por Pernambuco à Assembléia Constituinte em 1934. Depois Foi ministro, novamente chefe de Polícia do DF e exerceu, ao longo da vida, inúmeros outros cargos públicos. Faleceu em sua residência no Leblon, Rio de Janeiro, em 26 de janeiro de 1955.

Apolônio de Barros

Apolônio de Perga Bandeira de Barros, Filho do dr. Joaquim Cavalcanti Leal de Barros e D. Domitila Teles Leal de Barros, nasceu em 12 de julho de 1883 na cidade de Recife, em cuja academia se formou em Ciências Sociais e Jurídicas, no mês de dezembro de 1904. Foi nomeado juiz substituto de Crateús em janeiro de 1905 e assumiu o exercício deste cargo a 13 de fevereiro do mesmo ano. Foi nomeado juiz de direito de São Benedito a 2 de julho de 1911 e entrou em exercício no dia 23 do mesmo mês e ano. Removido a seu pedido dali para a comarca de Ipu, assumiu o exercício do cargo a 20 de abril de 1920. Faleceu a 12 de abril de 1922 vítima de uma infecção intestinal.


Para Saber Mais:

A Coluna Prestes no Interior do Ceará. Livreto publicado (produção independente) por Antônio Marrocos de Araújo. Relata a passagem da Coluna Prestes pelo Ipu quanto tinha 19 anos de idade.
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