sábado, 13 de abril de 2013

O mundo dos negros em Ipu - Parte IV



Negros de ganho, negras de tabuleiro e amas de leite: as múltiplas facetas do trabalho escravo no Brasil (séculos XVI – XIX). Fonte: http://www.brasilescola.com/historiab/formas-trabalho-escravo-no-brasil.htm

         A cidade de Ipu, na segunda metade do século XIX, se apresentava como um importante núcleo, considerado produtivo no Ceará, revelando a relativa importância da escravidão. É nesse período, por exemplo, que a produção algodoeira do município dá um salto, em que são encontradas algumas minas de ouro, e que a cidade ganha importância em relação a outras áreas da província. Em 1840 é elevada à condição de Vila, a cabeça de Comarca, em 1848, a sede da freguesia, de fato, em 1844, quando o Padre Correia deixou a matriz de São Gonçalo e veio morar na sede da Vila, e de direito, em 1883, ano do início da abolição no Ceará.
        Analisando alguns dados que dispomos para a cidade de Ipu foi possível produzir uma análise sobre as ocupações dos escravos. Os dados dos cativos matriculados até 30 de junho de 1881 mostram que no meio rural existiam 450 cativos, dentre eles 300 homens e 150 mulheres, e que no meio urbano havia apenas 276, sendo 101 homens e 175 mulheres, 208 escravos não declararam a ocupação, dos quais 83 homens e 125 mulheres.
          Pelos números acima percebemos que existiam mais escravos no meio rural do que no meio urbano, o que evidencia uma maior importância das atividades econômicas ligadas à pecuária e as atividades agrícolas. Mas, em Ipu é significativo o número crescente de escravos ligados às atividades do meio urbano.
        Na maioria das províncias cearenses a quantidade de escravos do sexo masculino é bem maior do que do sexo feminino, sendo raro casos em que os cativos do sexo feminino suplantam aqueles do sexo masculino. Em Ipu há, pelo menos para o ano de 1881, um equilíbrio entre os sexos, com 484 cativos homens e 450 cativos do sexo feminino, outro fato que pode explicar o crescimento do número de escravos na Vila de Ipu, uma vez que certamente o crescimento vegetativo fora significativo.
         Para Ipu a documentação mostrou que em 1881, 208 escravos são arrolados sem ter declarado a profissão, aparecendo na aludida documentação a palavra “qualquer”. Neste universo existem muitos escravos, o que é bem provável, que desempenhavam mais de uma profissão. As mulheres exerciam o ofício de costureiras, rendeiras, fiandeiras e ainda prestavam serviços domésticos como cozinheiras, lavadeiras, amas-de-leite, etc., e em épocas de colheita poderiam ir para a lavoura. Na cidade, a mão de obra cativa ajudava na constituição da renda familiar dos seus senhores, uma vez que era alugado e trabalhava como escravo de ganho e até, em alguns casos, como prostitutas. No meio urbano encontrava-se uma mão de obra mais especializada como pedreiros, marceneiros, alfaiates, sapateiros, etc.
No meio urbano existia uma maior possibilidade do negro sociabilizar-se, ter mais liberdades de circulação e a possibilidade de construir família, tanto maior se ele fosse um escravo de ganho, exercendo, por exemplo, a atividade de vendedor ambulante, ficando como uma parte das vendas.
  
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