sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

O professor e a educação pública



Os recentes indicadores da educação pública brasileira têm demonstrado a sua baixa qualidade, apontado para a necessidade não apenas de maiores investimentos na área, mas de uma política mais arrojada capaz de melhorá-la, sem falar na gestão dos recursos, que nem sempre chegam como deveriam à escola, por passar por muitas mãos nada limpas. Para além das críticas que se possa fazer aos atuais métodos de avaliação do ensino público e interesses por trás deles, é imperativo a mudança de postura do governo nessa área.
        Só para lembrar dois recentes indicadores da educação básica nacional, o Programa Internacional de Avaliação Estudantil (Pisa), revelou que numa lista de 65 países, o Brasil, embora tenha avançado em relação às edições anteriores, é apenas o 58º, abaixo de muitos países pobres, emergentes e com economias mais frágeis. No Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM-2012), a média dos estudantes egressos das escolas públicas e que cursavam o último ano do Ensino Médio era ainda muito baixa.
        Fiquei surpreso, no entanto, com as declarações e respostas de burocratas, aqueles que não conhecem a realidade da sala de aula, na grande mídia, quando perguntados qual era o problema da escola pública. Foram unânimes em apontar como principal fator para o péssimo desempenho dos alunos do ensino básico a baixa qualidade dos professores.
        É essa a resposta dos técnicos que nunca enfrentaram a sala de aula e as belas escolas públicas (já ensinei numa escola que não tinha luz elétrica e nem banheiro para os alunos): pesquisa divulgada esta semana mostrou que 44% das escolas públicas funcionam de modo precário, com nível mínimo de infraestrutura. Confesso que, quando aluno da graduação, tendia a reproduzir este discurso. Porém, estando na educação pública há mais de dez anos vejo que os seus problemas são mais profundos: salas de aula lotadas; falta de perspectivas dos alunos; alunos vindos de famílias desestruturadas; falta de compromisso da família com a educação dos filhos; transferência de responsabilidades sociais e familiares para as escolas; estabelecimentos de ensino precários, em boa parte; baixos salários dos profissionais, governos pouco preocupados em melhorar as condições de trabalho e em investir nos profissionais da educação.
        Em sua maioria, os mesmos professores que atuam no ensino público básico são aqueles que estão nas belas salas de aula das escolas particulares. Estas dão excelentes condições de trabalho, geralmente não têm salas com mais do que 30 alunos e não enfrentam os mesmos problemas com alunos que vêm de famílias desestruturadas.  Tudo isso reflete no desempenho dos educandos. Se os professores são os mesmos, em essência, onde estão os culpados, então?

        Os problemas da educação pública básica são estruturais e bem mais profundos. Quem não conhece a realidade da sala de aula tende a culpar os professores pelo baixo desempenho dos alunos.
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