domingo, 19 de janeiro de 2014

A Festa de Sebastião de Ipu-Ce. Parte II



São Sebastião. Por Sandro Botticelli
Nos dias seguintes, todas as noites, ocorrem as tradicionais novenas, sempre após o cortejo em volta da imagem de São Sebastião, pelas ruas da cidade, como no dia da alvorada, celebradas em ampla praça aberta na frente da Igreja, em razão de esta não suportar a multidão de devotos. Após as celebrações religiosas, ocorrem as seculares quermesses, no centro da cidade, onde se reúnem uma multidão de pessoas, vendedores ambulantes, camelôs, etc. É lá na praça da quermesse que fica o parque de diversões para a alegria da população.
No último dia é realizado o tradicional leilão da paróquia em que as pessoas mais abastadas e as autoridades da cidade (prefeito e vereadores), em uma “clara demonstração de religiosidade e amor a terra e ao santo”, aos olhos da população e no dizer de um padre, se reúnem para arrematar o que a Igreja recebeu de donativos, da população, “para o santo padroeiro”.  A falta de uma autoridade ao evento é (ERA) vista com maus olhos pela população. [1]
No penúltimo ou último dia dos festejos, dia 19 ou 20, há uma tradicional festa dançante, autorizada pela paróquia. Em troca, a Igreja fica com parte da arrecadação.
Mais recentemente, durante o mês de janeiro e mais ainda, nos 10 dias de festejos, o executivo municipal e entidades da sociedade civil instituem um cronograma de atividades culturais para a cidade para receber os filhos ipuenses que escolhem a data para gozar suas férias na Terra de Iracema. Exemplos disso é a reunião anual, aberta ao público, da Academia Ipuense de Letras e Artes (AILCA), cuja maior parte de seus membros, ou pelo menos uma parte significativa deles, reside em outras cidades, e da tradicional Festa do Reencontro, organizada pela Associação dos Filhos e Amigos de Ipu (AFAI). É que a cidade de Ipu, no mês de janeiro, fica apinhada de devotos e turísticas. 
Há ainda muito presente nos mais velhos uma memória dos “verdadeiros’ festejos de outrora e uma visão negativa dos festejos atuais. Essa memória espera pacientemente pelas análises dos historiadores da terra que apenas descrevem, na maioria das vezes, de forma saudosista, os festejos do padroeiro.





[1] Na cidade de Ipu, como em outras cidades do interior cearense, as disputas políticas  eram (e ainda são) muito acirradas. Há sempre dois grupos políticos muito fortes que disputam o voto da população. Assim, nos festejos do padroeiro e, sobretudo no dia do leilão, os grupos políticos rivais, num passado não tão remoto, compareciam. Na ocasião, tentavam arrematar os donativos numa clara luta de queda de braço. Parte da população, na hora do leilão, fazia uma grande algazarra, torcendo pelo seu candidato arrematar uma simples galinha ou um porco, por exemplo, com o lance mais alto. Muitos ali, naquele momento, decidiam o seu voto. Os políticos, de outrora, para além de manterem uma tradição e “preocupação com a saúde financeira da Igreja”, sabiam disso.
← ANTERIOR PROXIMA → INICIO

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, opinião e sugestões. Um forte abraço!