quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Ipu: perfil urbano VII




Jardim de Iracema. Fotografia do acervo do prof. Mello
Seguindo pelas ruas pavimentadas por paralelepípedos, ainda no início do século, e símbolos do progresso para parte da população local, o viajante pode perceber que a velha Estação Ferroviária é ligada ao centro da cidade por duas vias largas, retilíneas e regulares, as atuais ruas Cel. Felix de Sousa Martins e Cel. Liberalino. Seguindo por qualquer uma delas, poderia avistar à sua esquerda o antigo prédio, inaugurado em 1927, construído para ser a sede do Grêmio Ipuense (1912) e do Gabinete de Leitura (1916), duas associações erguidas com o objetivo de fundar novas sociabilidades antenadas com os ideais do progresso e da modernidade, desejo de homens e mulheres seduzidos por tais valores. O antigo Palacete Iracema, símbolo de novos valores buscados, vendido à iniciativa privada, modificado e “modernizado”, é hoje a sede da Caixa Econômica Federal. A memória das Soirées, dos bailes, partidas literárias e saraus, realizados em seu interior, permanece apenas na mente dos mais velhos de seus frequentadores. A sua antiga sede já não lembra suas noites de “gala”.
Da calçada do antigo Palacete Iracema, na rua Cel. Liberalino, o viajante vê, a poucos metros de distância, a atual Praça de Iracema, bem no coração pulsante da cidade, onde, em 1927 foi inaugurado o Jardim de Iracema, por iniciativas de homens desejosos de espaços de sociabilidades modernas. No centro do Jardim foi erguido um coreto onde, aos domingos, as bandas de música do Centro Artístico Ipuense[1] e da Euterpe Ipuense[2] realizavam retretas para o deleite de pessoas abastadas e que se reuniam para sociabilizar-se e respirar os ares de um mundo novo buscado, sem ser incomodados pelo “populacho”, mantidos a distância pela força policial. O viajante se decepcionaria, também, ao saber que aquele logradouro foi destruído e reconstruído quatro sucessivas vezes e que a Praça de Iracema[3], atual, foi inaugurada apenas nos primeiros anos do século XXI. É escusado dizer que a atual praça nada lembra a antiga ali erguida.
Seguindo ainda por uma das duas vias que ligam a Estação Ferroviária ao centro, o viajante chega a uma das duas esquinas do Mercado Público. Talvez se impressione com a robusteza do comércio, apesar de seu crescimento lento atual: para qualquer lado que olhe avista um mar de estabelecimentos comerciais e um burburinho constante, em alguns dias ensurdecedor, de veículos e pessoas circulando, algo pouco característico das pequenas cidades do interior do Ceará.

Continua...





[1] O Centro Artístico Ipuense foi fundado em 29 de junho de 1918. Era uma sociedade anônima e, segundo seus estatutos, beneficente, cujo objetivo era o “alevantamento physico, intellectual e moral de seos associados”. Como o Grêmio e o Gabinete de Leitura, congregava parte da “escól social” local. Realizavam-se em seus salões as concorridas soirées e contava com uma banda de música, que tocava nos espaços de sociabilidade, reunindo os abastados e letrados da cidade. Ver Estatutos do Centro Artístico Ipuense. Ipu: Typographia do Campo, 1921, p. 1.  Para uma discussão mais detalhada sobre esta associação ver FARIAS FILHO, Antonio Vitorino. O Discurso do progresso e o desejo por uma outra cidade. imposição e conflito em Ipu-CE (1894-1930). 2009. 151 f. Dissertação (Mestrado Acadêmico em História e Culturas) - Centro de Humanidades, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza.
[2] A Euterpe Ipuense foi outra associação fundada na segunda década do século XX, com o objetivo de desenvolver em seus sócios o gosto pela “boa música” e para prestar “benefícios ao seu torrão natal”, segundo seus estatutos. Possuía uma banda de música sempre solicitada para tocar nos bailes das associações elitistas locais e nas comemorações oficiais do município. Idem.
[3] Em 1961, na administração do prefeito Antônio Pereira de Farias (1960-1966), o Jardim de Iracema passou por uma ampla reforma, sendo o coreto destruído. Em seu lugar foi construído um lago e a escultura de um cisne. Em seguida, o cisne deu lugar a uma escultura da índia Iracema (1965), que até bem pouco podia ser vista. A estátua foi presente do prefeito de Fortaleza, Cel. Murilo Borges, uma réplica de outra erguida na Praia de Iracema, em homenagem ao centenário do romance Iracema, de José de Alencar. Esta também foi destruída quando a praça passou por uma nova reforma, no governo do Prefeito Francisco Eufrásio Mororó (1982-1988), no ano de 1985.  Mais uma vez, houve nova reforma que destruiu totalmente a praça anterior. Finalmente, no governo municipal de Maria do Socorro Pereira Torres (2005-2008), a praça foi, novamente, destruída e em seu lugar foi erguida uma nova, a atual Praça de Iracema, com as estátuas de Iracema e do Guerreiro Branco, que não lembram em nada a singeleza do antigo Coreto e a imponente escultura da Avenida de Iracema. Jardim de Iracema – ou Avenida do Ipu. Os anos de Ouro do Ipu. Jornal dos Tabajaras. Ipu, p. 3, dez. 1996.  

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