sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Tour Elegante IV



 A Confeitaria Colombo

Frente da Confeitaria. Todas as fotografias são do meu acervo
A confeitaria Colombo, na atual rua Gonçalves Dias, foi um dos espaços de reunião preferidos da elite carioca e da boemia dourada literária entre fins do século XIX e primeiros anos do século XX. Em espaços mundanos, como a Confeitaria Colombo, a literatura era cultivada como um luxo igualável aos objetos de consumo e à moda que soprava da Europa, sobretudo Paris.  

Fundada em 1894, sofreu uma reforma de seu interior entre 1912 e 1918 com um toque de Art Nouveau e a introdução de enormes espelhos de cristal trazidos da Antuérpia, emoldurados por elegantes frisos talhados em madeira de jacarandá. Em 1922 as suas instalações foram ampliadas com a construção de um segundo andar, com um salão de chá. Uma abertura no teto do pavimento térreo permite ver a claraboia do salão de chá, decorada com belos vitrais. Entre os clientes famosos da confeitaria estão Olavo Bilac, Rui Barbosa, Villa-Lobos, Lima Barreto, José do Patrocínio e, atualmente, eu (rsrsr).
Entrar naquele espaço, observar a sua magnífica arquitetura, respirar um ar carregado de passado, dá ao visitante, como eu, uma ideia do que foi a chamada belle époque carioca, que conhecemos apenas pelos livros e pesquisas. Como sou um pesquisador daquele período (fins do século XIX e primeiras décadas dos séculos XX), ali me sinto em casa, encontro meu lugar.

Respirar a fragrância daquele espaço, uma espécie de mistura de cheiros de água de colônia, biscoitos amanteigados, chocolate quente, caramelo queimado e poeira, me transporta para o passado. Da mesma forma, observar, no final da tarde, quando os seus frequentadores já foram embora, sobre as mesas, agora desarrumadas, as migalhas de pão, copos manchados de batom, guardanapos marcados, pratos sujos, faz perder-me em devaneios imaginado a sociedade carioca daquele tempo, a balbúrdia das conversas simultâneas, as vozes, o tinido das facas e garfos de prata, tintin de copos ao ar, o som de uma valsa ou polca ao fundo, os flertes, os casos amorosos, as prostitutas de luxo tentando fisgar os seus clientes, os boêmios e literatos. Tudo isso, me dá um prazer imenso cujas palavras não são capazes de expressar.
O mais mágico é que, imaginar e viver aqueles momentos me fazem perder a noção do tempo. Os melhores momentos de nossa vida - posso lembrar-lhes - são aqueles em que esquecemos a nossa existência (em que perdemos a noção do tempo, como quando estamos apaixonados).
Para aqueles interessados em saber mais sobre esses ambientes e o clima da época há, pelo menos, três bons livros, dois deles são romances. A vida literária – 1900, de Brito Broca[1], não é simplesmente uma obra sobre a literatura dos anos finais do século XIX e dos anos iniciais do século seguinte, mas um livro sobre a vida literária no período. A preocupação do autor centra-se em estabelecer a relação entre literatura e sociedade. Qual ligação pode-se estabelecer entre letras e o universo cultural no Brasil, sobretudo na capital republicana? Esta parece ser uma das perguntas a ser respondida. Brito Broca não se prende na discussão sobre os livros publicados no período, as tendências seguidas ou as escolas literárias, mas em analisar o universo cultural ou social, como queiram, dos homens de letras no Brasil e mais precisamente na capital, centro dinâmico e cultural da nação no período, atraindo para si os talentos mais brilhantes.
Uma boa descrição dos espaços mundanos cariocas é dada "por Afrânio Peixoto em A Esfinge[2], e uma crítica deles, é feita por Elysio de Carvalho em Five o’clock[3]. No primeiro caso, quase todo o romance é ambientado nos salões mundanos, cuja descrição é feita em detalhes, ‘documento’ histórico destes ambientes, locais de intrigas pessoais, espaços de discussões políticas, questões econômicas, literárias e artísticas, de construção de alianças e de, principalmente, flertes. No segundo romance, os salões são entendidos como locais de teatralização, do parasitismo frívolo que estimula notáveis, a elite letrada e seus dandys, a mise-en-scéna, na então capital”. [4]



[1] BROCA, Brito. A vida literária no Brasil – 1900. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olympio: Academia Brasileira de Letras, 2004.
[2] PEIXOTO, Afrânio. A esfinge. 12. ed. São Paulo: Clube do Livro, 1978.
[3]CARVALHO, Elysio. Five o’clock. Rio de Janeiro: Editora Antiqua, 2006.
[4] FARIAS FILHO, Antonio Vitorino. Cidade e modernidade. ipu-ce: verso e reverso de uma cidade nas primeiras décadas do século xx. 265 f. Tese (Doutorado em História) – Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013, p. 104.
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