terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

Ipu Antigo VI



Vista Parcial da Cidade (1940). Acervo: prof. Mello.
A importância da ferrovia para a cidade de Ipu não reside apenas no fato de ter favorecido o aumento da produção dos artigos produzidos localmente, mas também de ter transformado esta urbs num ponto de atração de toda a produção das regiões em sua volta, pela facilidade de comunicação com outras praças, e que antes de 1894 não encontrava facilidades de expansão. Já em 1884, Antônio Bezerra de Meneses[1], em sua viagem pelo norte da província, se admirou com tamanha riqueza natural e da produção das cidades e povoados da serra da Ibiapaba, que encontrava limites de expansão na falta de transportes e comunicações.  Não deixou de anotar que logo que os trilhos chegassem à cidade, com sua localização privilegiada, a dois quilômetros da serra, se tornaria a urbs mais importante e rica do norte cearense, sobrepujando Sobral. Ao passar por esta última cidade anota: “não tenho a intenção de ofuscar o brilho de Sobral, cuja prosperidade é visível, mas esta estacionará logo que chegue a estrada ao Ipu”. “Os produtos da Ibiapaba não se perderão como até hoje à falta de consumo”[2].
Igualmente, a ferrovia teria dinamizado a produção de açúcar e aguardente, bem como outros produtos agropecuários. José Bernardo Teixeira, por exemplo, que em meados do século XIX montou um engenho de produção de açúcar, rapadura e aguardente, por tração animal e mais tarde por tração a vapor, usando as águas do riacho Ipuçaba, passou a exportar para outras praças o açúcar produzido na “Lagôa do Teixeira”, como ficou conhecido o seu engenho. Segundo o relato do historiador Francisco das Chagas Paz, entre fins do século XIX e início do século XX a “Lagôa do Teixeira”

Fabricava aguardente, rapadura e o famoso açúcar turbinado que era vendido para a Capital, até mesmo para o estado do Pará, embarcando aqui, na Estrada de Ferro recentemente inaugurada, levando-o ao porto de Camocim. Dalí por via marítima chegava às praças onde era vendido[3].

Segundo ainda o autor da citação acima, os invernos irregulares dos primeiros anos do século XX, associado às dívidas contraídas pela família Teixeira, levou-o à falência. A “Lagoa dos Teixeiras” foi vendida para a Firma Boris Frères, com filial em Fortaleza, que fazia o comércio de importação e exportação entre o Ceará e a França[4] e já comerciava com o norte do Ceará mesmo antes da EFS[5], nutria projeto de investir mais pesadamente na região para explorá-la economicamente. Com os invernos bons após 1909, a propriedade foi comprada pelo Cel. José Lourenço de Araújo, que restaurou o maquinismo e retomou a produção de açúcar. No entanto, se notabilizou como grande exportador de algodão, como vimos. 

Continua...




[1] Antônio Bezerra de Meneses (1841-1921). Jornalista, poeta, historiador e naturalista. Em 1884, participou de uma comissão a Região Norte do Ceará, organizada pelo governo da província, com o objetivo de colher informações históricas, geográficas e de sua natureza. Profundo conhecedor e estudioso das ciências naturais, historiador da primeira geração do Instituo Histórico do Ceará, sendo um de seus fundadores em 1887, não se limitou apenas a colher informações estatísticas dos locais por onde passava, deixando suas impressões no livro citado, Notas de Viagem, publicado inicialmente em folhetim, para o jornal Constituição. Idem.
[2]  BEZERRA, Antônio. Notas de Viagem. Op. cit., p. 319.
[3] Ipu em Jornal. Ipu, p. 1, 6 e 7, Set. 1959.
[4] TAKEYA, Denise Monteiro. Europa, França e Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil. Natal: UFRN. Ed. Universitária, 1995.
[5] BEZERRA, Antônio. Notas de Viagem. Op. cit., p. 321.
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