quarta-feira, 23 de abril de 2014

Imprensa e cidade: o jornalismo no início do século XX em Ipu-Ce. Parte I



Gazeta do Sertão (1913). Capa. Nº 1. Acervo de Raimundo Alves de Araújo
A imprensa surge na cidade de Ipu em fins do século XIX. Inicialmente se resumia a pequenas folhas manuscritas e com um forte viés literário. Somente nos últimos anos do século XIX, e mais ainda nos primeiros anos do século seguinte, é que surgiriam jornais e revistas em “letras de forma”, isto é, impressos. É essa imprensa que nos permite, em grande medida e por sua abundância, visualizar a cidade daquela época, os conflitos que se desenrolaram em seu palco, os desejos buscados e, mais importante ainda, as representações construídas sobre o espaço urbano.

Imprensa e cidade

O surgimento de jornais, em Ipu, é também resultado da expressão de agentes sociais com desejos pelo novo e em busca de cimentar projetos diversos. A própria imprensa, como novidade, era entendida como atributo de um povo letrado e, portanto, progressista, moderno.
No dizer de Eusébio de Sousa, juiz da Comarca de Ipu entre 1913 e 1918, a imprensa é “a bella manifestação do progresso de um povo”[1]. Devia ter ela um papel fundamental para o desenvolvimento do caráter de uma população, na medida em que uma de suas funções era instruir. Devia ter também, uma feição intelectual e cunho artístico, algo que faltava, por exemplo, segundo ele, ao jornalismo desenvolvido pela capital do Ceará até 1918, momento em que escrevia, representado pelos jornais Folha do Povo, Diário do Estado, Correio do Ceará, Jornal Pequeno e o Imparcial[2].
A imprensa, para o magistrado, devia ter uma função pedagógica, jogar um papel importante para a formação moral e do “caráter” de um povo. Devia esclarecer, no sentido de instruir, ensinar, de mostrar o melhor caminho a ser perseguido pela sociedade e atacar o que considerava errado, do ponto de vista de “nossa” (sua) formação ética e moral. Devia ela, em última instância, moldar os indivíduos, ser “a escola que modifica o nosso caracter e nos habilita a acompanhar questões de alta importância”, ter uma ação moralizadora e combativa das paixões partidárias, um mal a ser extirpado da folha impressa, mas que a assolava. A imprensa, em Fortaleza, naquele momento, “ao que parece não tem querido ella comprehender o verdadeiro papel que lhe assiste, desvirtuando quase sempre sua acção moralizadora para o terreno das paixões partidárias”[3].
O jornalismo, pensado desta forma, teria um papel importante no caminho de “apontar os nossos defeitos, combater o erro, defender o que necessitava de auxilio, enfim propugnar pelo bem, abandonando de vez as paixões, os falsos expedientes até então postos em pratica”[4].
Esses vieses, de fato, aparecem na folha impressa em Ipu nas primeiras décadas do século XX, sobretudo em seus órgãos mais bem elaborados e importantes naquele momento: o Jornal Gazeta do Sertão (1913) e o Correio do Norte (1918-1924). Ambos conheceram a pena ávida de Eusébio de Sousa e onde escreviam os intelectuais do círculo de sua amizade. Do segundo periódico, o juiz imprimiu diretamente as suas diretrizes ao fundá-lo e ser o seu primeiro diretor. 

Continua...




[1] SOUSA, Eusébio. Um pouco de Historia. Op. cit., p. 226.
[2] SOUSA, Eusébio. A Imprensa do Ceará em 1918. In: Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza. Tomo. XXXIII, Ano XXXIII, 1919, p. 22-107, p. 25. O autor negligencia os pequenos jornais, com características de pasquim.
[3] Id. Ibidem, p. 28.             
[4] Id. Ibidem, p. 29.
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