sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

O livro didático de História: uma reflexão - Parte I



Iniciamos hoje uma nova seção dedicada ao debate historiográfico, voltada mais às discussões nesse campo de estudo, destinada aos estudiosos de um modo geral e ao estudante de história em particular. Apresentaremos textos curtos e com uma linguagem mais acessível ao não iniciado. O texto de hoje faz uma reflexão sobre o livro didático de história, uma ferramenta que se tornou quase o único recurso pedagógico adotado pelos professores do ensino básico.
Boa leitura!

A primeira questão a ser colocada é de que o livro didático é material elaborado para nortear as práticas de mediação do conhecimento dentro das salas de aula no ensino básico. Tem como papel central auxiliar no processo pedagógico. É uma ferramenta produtora de conhecimento reconhecida pelas instâncias educacionais superiores. É amplamente utilizado pelos professores que, por vezes, preparam as suas aulas tomando-o como única referência ao transformá-lo no próprio currículo. Assim, os conteúdos a serem ensinados já estão selecionados previamente. Neste último caso, isso é resultado, em parte, de uma precária formação dos professores.
            Utilizado como única ferramenta na condução da aprendizagem na disciplina de história, coloca alguns problemas. Em primeiro lugar, no que se refere a forma pela qual apresenta os conteúdos, parte dos manuais didáticos trazem um conhecimento categórico, característica perceptível pelo discurso unitário e simplificado que reproduz o conhecimento, não deixando margem para a contestação. Ao expressar uma “verdade”, bastante impositiva, não abrem espaço para a contestação ou confronto[1].
            Em segundo lugar, como esclarece Circe Bittencourt[2], o livro didático é, antes de tudo, uma mercadoria, um produto do mundo da edição que obedece à evolução das técnicas de fabricação e comercialização pertencentes à lógica do mercado. É também, um suporte básico e sistematizador privilegiado dos conteúdos escolares elencados pelas propostas curriculares, além de ser, é verdade, um instrumento pedagógico e, finalmente, um veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura.
            Como mercadoria, inserida nos ditames do mercados e da indústria cultural, o livro didático está sujeito a muitas interferências em seu processo de produção e vendagem. Para as editoras, por exemplo, importa menos a orientação metodológica ou ideologia contida em uma coleção e mais a sua capacidade de vendagem e adequação ao comprador. Nesse processo que envolve interesses diversos, nem sempre a preocupação com a qualidade do texto, exclusivamente acadêmica, é respeitada. O livro didático, como produto cultural, transmite o posicionamento de seu autores, expressam leituras, posicionamentos políticos, ideológicos e pedagógicos.
            Portanto, os manuais didáticos não são apenas ferramentas pedagógicas, mas também recortes de seleções culturais variáveis, de verdades a serem transmitidas às novas gerações, veiculador de visões de mundo de seu produtor.
            Os manuais pedagógicos possuem como objetivo a transposição dos saberes acadêmicos para o espaço escolar, consubstanciadas com base em textos, representações, imagens. A sua materialização envolve também concepções educacionais, políticas, sociais e pedagógicas que, em conjunto, transmite uma visão de mundo que determina a diagramação aplicada, a construção dos conteúdos, a estrutura da narrativa e os exercícios propostos[3].
            Um grande problema que podemos levantar é que os textos e imagens presentes no livro didático são geralmente percebidos como verdades históricas por partes não apenas dos alunos, mas também por parte dos docentes.

Continua...



[1] BITTENCOURT. Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 313.
[2] Idem.
[3] MARTINS, M. B. e MATOS, J. S. Ensino de história moderna no livro didático: representações dos gêneros. XXVII Simpósio Nacional de História. Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1371331576_ARQUIVO_EnsinodeHistoriaModernanoLivroDidaticoRepresentacoesdosGeneros.pdf>. Acesso em: 23 de jan. 2016.

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