O Campo de Concentração do Ipu (1932) - Parte I
Fonte: domínio público. Autor desconhecido
No início da
década de 1930 a cidade de Ipu viveu um período inusitado e conturbado. De
local que expulsava retirantes da seca passou a recebê-los. Os três anos de
seca que começou em 1932 e os horrores provocados pelo flagelo levaram as
autoridades estaduais a adotar uma nova postura política para lidar com a
questão. Assim, para impedir as levas de retirantes que saiam do interior em
direção à capital, foram erguidos em todo o Ceará, nesta época, sete Campos de
Concentração.
Campos de Concentração no Ceará?
Os Campos foram
locais criados pelo governo com o objetivo de isolar e assistir os retirantes
famintos. Eles foram erguidos em locais longe dos centros das cidades com o
objetivo de se exercer sobre eles um controle rigoroso, dissipando o perigo de
saques, doenças e as “imoralidades” trazidas pelo flagelo.
Diante do medo que uma multidão de famintos causava aos moradores das
cidades, foram criados espaços de confinamento dessas massas “indesejadas” onde
fosse possível não apenas prestar assistência, mas também e, principalmente,
exercer um controle social e uma disciplina permanentes.
Os Campos de
Concentração criados pelo interventor estadual em 1932, buscavam, em teoria,
barrar as levas de retirantes em direção à capital e outras cidades do Estado, sendo erguidos em locais estratégicos próximos às ferrovias. Nesses locais,
grande parte dos flagelados era recolhida a fim de receber, do governo,
assistência alimentar e médica. Junto com a assistência vinha o controle.
Como surgiu a ideia do Campo de Concentração para flagelados?
A criação dos Campos de Concentração não era uma novidade da seca de
1932. A primeira experiência se deu na capital na seca de 1915, criado para
impedir os transtornos trazidos pelos retirantes na terrível seca de 1877-1879.
Nessa ocasião, a cidade foi invadida e ocupada por mais de 100 mil retirantes,
um número quatro vezes maior do que sua população. “Epidemias, crimes,
desacatos à recatada moral das famílias provincianas, tragédias indiscutíveis
se desenvolveram à vistas de todos: assassinatos, suicídios, saques,
loucuras...”.
A iniciativa tomada em 1877 foi a
construção de abarracamentos em diversos pontos da cidade de forma mais ou
menos aleatória. O imenso número de retirantes chegados a Fortaleza e a
inexistência de uma política mais rígida de controle da multidão geraram
inúmeros transtornos para a população local. Os três anos de estiagem
possibilitaram uma fulminante epidemia de varíola, que vitimou mais da metade
dos 100 mil retirantes “alojados” nos abarracamentos, deixando em pânico a
população da capital.
Só em um dia, em 10 de dezembro de 1878, recebeu o cemitério do lazarento,
1.004 vítimas da epidemia, ficando este dia conhecido e gravado na memória da
capital como “o dia dos mil mortos”.
Na seca de 1877-1879 Fortaleza já se descortinava como o grande polo econômico
do Ceará. Não estava preparada para receber aquela imensidão de retirantes. No
entanto, a seca de 1877-1879 representou para o governo um aprendizado.
Com o recrudescimento do flagelo, após as secas de 1898 e 1900 – esta em
menor proporção devido ao bom inverno do ano anterior – em 1915 acorreram à
capital novas levas de famintos, na esperança de serem amparados pelo governo.
Neste momento, as estradas de ferro exerceram grande importância no transporte
dos retirantes, contribuindo para aumentar, a cada dia, o número de flagelados
que buscavam a capital. Teve aí a primeira experiência de criação dos Campos de
Concentração. Era preciso não permitir o ocorrido na seca de 1877-1879.
Agora a estratégia, respaldada pelo saber médico, era confinar os
retirantes em apenas um local onde fosse facilitado não só a distribuição de
socorros, mas também, e principalmente, fosse possível manter um controle
rigoroso e uma disciplina permanentes sobre os flagelados.
A estratégia de criação dos Campos de Concentração no Ceará na seca de 1932
buscava barrar a chegada em Fortaleza dos flagelados. Os cinco campos erguidos
no interior estavam localizados em regiões estratégicos de forma que impedisse
a saída dos retirantes em direção à capital. Os outros dois erguidos em Fortaleza
localizavam-se na periferia, longe da região central da cidade.
No interior, a assistência e o controle deveriam impedir a chegada de
grandes levas de retirantes, comum em outras secas. Em Fortaleza, embora os
campos estivem localizados nos subúrbios, não raras vezes, vários retirantes
conseguiram atingir os bairros nobres.
Continua...
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Muito bom professor! Parabéns!
ResponderExcluirOK. Obrigado!
ExcluirParabéns, Vamos estudar a nossa historia, poucas pessoas sabem do
ResponderExcluirnosso passado e sempre ficou escondido e nem em livros dificilmente encontramos.
Continue com sua ideia de contar a historia do nosso povo