terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Ipu: perfil urbano IX - Final



Caso o nosso viajante quisesse conhecer este local, se decepcionaria mais uma vez, pois ali funcionam hoje alguns estabelecimentos comerciais e sedes de secretarias da administração local. Mas sabedor de que as prostitutas, expulsa do centro da cidade, se deslocaram para o local que ficaria conhecido à época como Rua da Mangueira, então desabitado, no atual bairro da Caixa D’água, e lá ergueram um famoso cabaré, poderia ele querer visitá-las lá. Bastaria, para isso, pegar o caminho de volta, pela Rua Cel. Liberalino, até o mercado público, virar, então, à esquerda, na atual rua Antonio Martins, subir, passar pelo antigo Bilhar e Padaria do Zé Padeiro, que não existe mais, onde os rapazes da época se reuniam, à noite, para dali rumar “em esticada”, com suas lanternas, à Rua da Mangueira, para uma noitada no cabaré. Após andar por algum tempo, chegaria ao local onde no início do século passado foi erguido o mais famoso cabaré da região e que fez a fama da cidade de Ipu como lugar do prazer e da perdição, um contraponto a sua imagem construída de cidade moderna. Inicialmente, era composto por “oito casinhas” “rebocadas”, “caiadas” e “cobertas de telhas” [1] e aonde se ia não apenas para a prática do sexo, mas para diversões várias.
O último foco do cabaré foi destruído na década de 1980, quando, já decadente, as suas últimas casinhas foram destruídas na administração de Francisco Eufrásio Mororó (1982-1988). A cidade tinha crescido e englobado o antigo cabaré. A antiga Rua da Mangueira é hoje parte de uma área nobre da cidade.
Embora a história que nos propomos a contar faça parte, cronologicamente, de um passado relativamente distante, a sua lembrança parece estar bastante viva na memória de parte de seus habitantes, que ainda pode identificá-la em construções e costumes. Em alguns momentos, esta memória vem à tona, como foi o caso da luta do povo ipuense pela devolução da Estação Ferroviária, vendida à iniciativa e resgatada posteriormente pela pressão da sociedade organizada, tendo papel de destaque a entidade que reúne os ipuenses espalhados pelo mundo, com a denominação de Associação dos Filhos e Amigos de Ipu (Afai), preocupada com a preservação do patrimônio local e a memória da cidade, ainda que ligada aos grupos dominantes. Não à toa que parte de seus membros são parentes dos homens poderosos que viveram as décadas iniciais do século XX e lutaram para erguer os monumentos que hoje estão sendo destruídos.




[1] SILVA, João Mozart. Ipu do Meu Xodó: memórias. Fortaleza: Nacional, 2005, p. 101.
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Um comentário:

  1. Gostaria de saber alguma coisa sobre as Familias Sousa, Lima e Nunes de Ipu de meados do ano de 1900

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