A Pintura Impressionista
Claude Monet. Femme à l'ombrelle (mulher com sombrinha), 1875. Óleo sobre tela. |
A pintura impressionista me fascina, em primeiro lugar, por ter sido, em sua época, rebelde. Os pintores dessa nova técnica romperam com regras da pintura oficial, uma vez que foram marginalizados pela estrutura artística estatal francesa, que selecionava as obras a ser admitidas nos salões. Em segundo lugar, por ter escolhidos como um de seus temas o cotidiano ou a vida moderna na segunda metade do século XIX, sendo, pois, uma fonte importante para analisar a sociedade da época.
As transformações pelas quais passou a
Europa na segunda metade do século XIX acabaram por modificar radicalmente o
conceito estético que tinha servido de guia para a produção artística durante
os séculos anteriores e surgiram novas vias de investigação nessa área que
resultaram em formas de expressão muito diferentes. Isso se refletiu nas artes:
literatura, escultura, arquitetura. Na pintura, gerou o “movimento” que ficou
conhecido como impressionismo.
Hoje gostaria de analisar apenas um dos
quadros de Édouard Manet, um dos autores impressionistas e que elegeram temas
parisienses e da vida moderna, precisamente por eu ser um fascinado pesquisador
da modernidade fin-de-siècle.
La musique aux Tuileries, 1862, Óleo sobre tela. Londres, coleção da National Gallery |
O quadro, “Música no palácio de Tulherias”
é uma reunião de retratos tratados de maneira alusiva em pincelada de branco e
negro, retocadas por algumas cores mais vibrantes, sobre uma abóboda de
folhagens pintada com grande liberdade[1]. Manet retrata um dos salões elegantes
da Paris, capital do século XIX na expressão de Walter Benjamin[2], onde só era recebida a alta aristocracia
(barões, baronesas, marqueses, condes, príncipes, que ainda mantinham seus
títulos e sua linhagem) e a ascendente burguesia enriquecida. Tais locais
funcionavam como importantes espaços de afirmação de posições, poder e riqueza.
De um lado, parte dessa aristocracia em decadência buscava estes espaços com o objetivo de encontrar maridos e esposas para seus filhos entre burgueses
enriquecidos com as oportunidades do crescimento econômico, mais fáceis após a
revolução industrial, na esperança de sair da crise, ainda que considerassem
essa burguesia com base em sua visão de mundo aristocrática, e que a desprezava.
Por outro lado, as famílias burguesas enriquecidas também iam a estes espaços
com a esperança de serem aceitas nos fechados círculos aristocráticos, em busca
de posição, e, em parte, de maridos e esposas para seus filhos no seio da
decadente aristocracia, como estratégia de ascender socialmente. Ambos, no
entanto, buscavam os salões para sociabilizar-se e viver a frivolidade, segundo
Baudelaire, do mundo moderno.
Na literatura francesa, Marcel Proust
nos permite entender melhor os salões aristocráticos de fins do século XIX em
sua obra À la recherche du temps perdu,
romance publicado no Brasil em sete volumes com o título de Em busca do tempo perdido, fazendo uma
crítica a eles por sua frivolidade, hipocrisia e tagarelice vazia, sobretudo no terceiro volume, O caminho de Guermantes.
Continua...
[1] LOBSTEIN, Dominique. Les Impressionistes. Cavalier Bleu, coll. Idées Reçues.
[2] BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte/São Paulo:
Editora da UFMG/IMESP, 2007.
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