Cel. João Martins da Jaçana. Fonte:http://pilotofrancomartins.blogspot.com.br |
Em 1914 a cidade de Ipu foi palco de um
dos mais atrozes episódios de sua história. Conhecido como “O caso de Ipu”, o
fato revela as disputas e embates políticos da época na Terra de Iracema. As grandes vítimas foram os
membros da “oligarquia” dos Martins, com destaque para os espetáculos chocantes
vividos pelo destemido e lendário Cel. João Martins da Jaçanã. Em quatro
capítulos, e baseado em fontes históricas, conto um pouco e interpreto o episódio.
Boa leitura...
Eram quase cinco horas da manhã do dia 9 de dezembro. O ano:
1914. Cerca de 5 policiais e alguns “capangas” armados esperavam na Estação
Ferroviária desde às 3 da madrugada a chegada à cidade do destemido cel. João
Martins da Jaçanã, com seus “jagunços”. Os policiais usavam como escudo os
inúmeros fardos de algodão (da firma J.
Lourenço & Cia) que aguardavam a chegada do trem na gare da Estação para o seu embarque até o
porto de Camocim. Estavam exaustos por uma noite mal dormida. Resolvem ir embora,
pensavam que a notícia de que o coronel invadiria a cidade com seu bando não
passava de um Boato.
João Martins morava em sua fazenda, Jaçanã, distante 6 Km da
sede do município. Irmão do líder político local, Cel. Felix Martins, estava insatisfeito,
furioso e “botando fumaça pelas ventas”, afinal no dia anterior políciais que
vieram da região do Cariri, “afilhados do Padre Cícero”, haviam dado uma surra
em seu sobrinho, o capitão Osório Martins, dentro do estabelecimento comercial
(Farias & Martins) em que era sócio, no mercado público.
Como membro da extensa família dos Martins e que dominara a
política local desde a montagem da oligarquia aciolina a partir de 1896,
estivera acostumado a sentir o gosto do poder. Ninguém seria capaz de
afrontá-lo, a seus familiares e agregados sob pena de levar uma surra corretiva
ou passar alguns dias nada agradáveis na cadeia pública. O Ipu, pode-se dizer,
“pertencia aos Martins”. O Juiz, o Promotor, o delegado e todos os principais
postos de mando estavam em suas mãos e ai daquele que se metesse com um deles,
o cemitério poderia ser sua morada eterna.
Mas, em 1914 os Martins perderam o poder e passaram a ser
perseguido pelo Governo do Estado. Durante o governo de Benjamin Liberato Barroso
foi empreendida uma verdadeira escalada contra os grupos de jagunços sob a
chefia dos coronéis, principalmente da região do Cariri, para onde foi enviada
numerosa força militar com recomendações de eliminar todos os “bandidos”: “Não
poupe bandidos. Execute-os sumariamente”, havia dito o governo do Estado.
Para o Ipu, agitado naquele momento, o mesmo remédio fora
recomendado. Só assim se explica a intensa perseguição ao Cel. João Martins da
Jaçanã e, de um modo geral, aos Martins de Ipu, que tiveram de fugir para não
serem alvo de atrocidades. Porém, o Episódio que comecei descrevendo é um pouco
anterior. Deixemos para a segunda parte a perseguição aos Martins.
O Cenário
Insatisfeito com a perda do poder e se sentido humilhado
pela surra dada por policiais em seu sobrinho, o coronel não pensara duas
vezes. Embora se encontrasse enfermo, invadiria a cidade, atacaria a cadeia,
exterminaria os policiais se possível e libertaria seu sobrinho da suposta
prisão. Mostraria a todos quem tinha o poder de fato. Preferia morrer a se
submeter à “justiça”.
Passageiros e transeuntes que aguardavam a chegada do trem
das 6h na Estação avistaram ao longe uma multidão que avançava a passos largos
pela rua Boulevard Dr. João Pessoa, hoje Avenida Auton
Aragão (ou “rua dos Canudos”). Eram 50 homens, dos quais 30 montados e que
tinham à frente o lendário e destemido Cel. João Martins com cara de poucos
amigos. Vinha bufando, literalmente, com sede de sangue e pronto a vingar-se da
humilhação sofrida. O relógio marcava pouco mais de 5h. Os policiais já não se
encontravam mais ali. Tomavam café no “quartel” (cadeia), no prédio da Casa de
Câmara (antiga prefeitura), no pavimento inferior. Riam, se divertiam e
comentavam: “esse tal coronel não é tão valente quanto pinta a população; “deve
ser um borra-botas”; “ele que venha que tenho bala sobrando!”.
Logo que chegaram à Estação, o Coronel e seu bando cortaram
os fios do telégrafo deixando a localidade sem comunicação com outros
municípios para impedir pedidos de reforços, sobretudo ao destacamento de
Sobral. Avançaram pela atual rua Cel. Felix em direção à cadeia. Pretendiam
cercá-la por todos os lados, mas os planos foram por água abaixo quando um tal
Jandaia Passos - que passara a noite bebendo, talvez no Curral do Açougue
(Cabaré), se divertindo com as “cutruvias”, gritara: “Se aprontem, soldados, para
morrer!” Foi o bastante para alertar os políciais, que abriram fogo contra o
bando que se preparava “para o bote”. As expressões faciais alegres dos
policiais deram lugar ao assombro... Iriam conhecer a fúria e o poder de fogo
do Coronel!
Das 5 às 9 da manhã do dia 9 de dezembro de 1914 ficou a
cidade sob fogo cerrado dos “jagunços fardados” e dos “capangas” de João
Martins da Jaçanã. O Mercado que abria suas portas fechou-as encerrando em seu
interior aqueles que ali estavam.
Os jagunços do coronel avançavam usando as grossas árvores
como escudos, outros se posicionando em seus galhos para buscar o alvo. Tomar a
cadeia era apenas uma questão de tempo.
Logo caiu morto, vítima de uma bala certeira, um dos
soldados. Era Antonio Pereira, irmão do agressor de Osório e um dos cinco
policiais que vieram do Cariri. Percebendo o perigo, correram o comandante
Assunção e seus soldados, para esconder-se na casa de D. Madeirinha Memória,
viúva do Dr. Francisco Memória. Da casa que ficava em um dos lados da Cadeia os
soldados mantiveram o fogo.
Porém, sabedor de que Osório não estava preso ali, na
cadeia, e após gastar mais de mil cartuchos e deixar a Cadeia e Casa de Câmara
com as marcas do episódio, João Martins e seu bando cessam fogo. Estava
abortado o plano de tomar a cadeia. Em entendimento com o chefe de polícia do
destacamento, João Martins exigiu que os “cachorros fardados”, “os afilhados do
Padre Cícero” fossem expulsos da cidade.
A pacata cidade de Ipu vivia um de seus episódios mais
sangrentos. O ataque à cadeira empreendido pelo coronel João Martins era apenas
o início de um banho de sangue que viveria a pequena, mas próspera, urbe do “sertão”.
Continua...
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Amigo Vitorino encentrei em outro blog, essa sua matéria, por sinal muito boa, sem os devidos créditos as Images - fotos. Algumas com a marca do Pilantra Germano Passos quando se trata de nosso arquivo, e vc menciona que é do meu Blog, e ela as descaracteriza CARIMBANDO com o nome dele dele. Incrível!
ResponderExcluirQuando eu tenho certeza de quem pertence a imagem ou informações que uso, eu dou os devidos créditos. Neste caso, como não sei a quem, de fato, pertence a imagem, citei a fonte de onde a tirei, na internet. Caso a fotografia original seja sua, terei o maior prazer e a honestidade de citá-la como sendo sua.
ResponderExcluirBoa tarde, adorei a história!
ResponderExcluirFiquei sabendo hoje que o Cel. João Martins da Jaçanã é Bisavô da minha Avó Maria do Carmo Martins... estamos pesquisando mais sobre os outros integrantes da Família!🙏👏👏👏
Estou procurando meus parentes João Martins Jaçanã sou de Goiânia qualquer coisa 02162993228186
ExcluirTenho orgulho de ser bisneto desse homem que sofreo bastante mais nao consigueriam da fim na sua vida como querria os seus pressiguidores e ele faleceu na sau cama deus foi quen o levou e esta seputado no semiterio do destrito de iraja hirolandia estado do ceara
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