Franco Rabelo. Presidente do Estado do Ceará entre 1912 e 1914. A sua queda derruba os Martins. Fonte: http://www.enciclopedianordeste.com.br |
João Martins, o
destemido e lendário coronel do “sertão”, havia lavado sua honra. Após atacar a
cadeia com seus “jagunços” e humilhar o poder instituído, dormiria tranquilo,
por enquanto. Mostrou à polícia e a cidade quem de fato detinha o poder. Só
deixou o Ipu após um acordo e muito insistência do chefe de polícia e o juiz da
Comarca. Todos temiam uma guerra, pois era certa a vinda de policiais do
destacamento de Sobral para manter a ordem e honrar o poder instituído.
A Conjuntura
O Coronel parecia não estar a par ou
ligar para a conjuntura política. Naquele momento os Martins de Ipu haviam sido
depostos do poder e os cargos, um a um, foram assumidos por seus tradicionais
opositores: os Aragão. Isso assim se deu pela própria mudança da conjuntura
política estadual e federal.
Os Martins e sua parentela estiveram
imbricados com a política oligárquica. Apoiavam Nogueira Accioly, chefe da
oligarquia estadual, e recebiam carta branca para governar a cidade de Ipu. O
comendador Accioly, por sua vez, apoiava o candidato ao governo federal
indicado pelo PRP (Partido Republicano Paulista) e recebia carta branca para os
mandos e desmando no Estado.
Mas, em 1910 esse esquema montado
por Campos Sales (Política dos Governadores) sofreria uma fissura com a eleição
de Hermes da Fonseca para a presidência. Hermes adotou uma política conhecida
como salvacionismo, que consistiu em promover uma substituição dos oligarcas
estaduais por outras, com o objetivo de “moralizar” a política federal e sob a
alegação de que as oligarquias estaduais, com sua corrupção e desmandos,
emperravam a administração e desenvolvimento do país. No Ceará foi lançada a
candidatura do salvacionista Franco Rabelo e que derrotou Accioly.
Mesmo com a queda do Comendador
Accioly e a ascensão do salvacionista Franco Rabelo, os Martins mantiveram o
poder local numa manobra bem orquestrada, apoiando as forças dissidentes, ao
lado de Paula Rodrigues - a quem conheciam muito bem e mantinham relações
amistosas - que deram suporte a
candidatura de Franco Rabelo à presidência do Estado em 1912. Em troca do apoio
a Franco Rabelo, mantiveram, momentaneamente, o poder em Ipu, o que lhes
valeram o apelido de “Vira-cassaca” dos seus opositores locais, os Aragão,
sedentos pelo poder. Só mais tarde estes teriam o prazer de sentir o gosto de
governar.
Vencedor nas urnas e assumindo a presidência do Estado em 1912, Franco
Rabelo governaria, no entanto, só até 1914, derrubado por uma conjunção de
forças estaduais e federais, com destaque para a Sedição de Juazeiro.
Este cenário político estadual e federal provocou consequências nefastas
para a política ipuense do período. Com a queda de Rabelo, caíram em Ipu, os
Martins. Estes não só perderam o poder, mas também foram perseguidos, como
“cães sarnentos”, duramente pelo governo do Estado.
Decretada a intervenção para o Ceará em março de 1914, assumiu o governo
o general Setembrino de Carvalho, que mandou de volta para Juazeiro os
“revolucionários” do Padre Cícero. Não obstante, muitos dos “jagunços” foram
incorporados ao Batalhão de Segurança Pública e logo começaram a “cometer
desordens, perturbando a tranquilidade das famílias”, sendo vítimas de
atrocidades os adversários do novo governo e aqueles mais próximos ao
rabelismo.
Muitos desses “jagunços”
incorporados ao poder repressor foram enviados ao interior para perseguir os
rabelistas. Ipu é um destes casos. Osório Martins sentiu na pele o gosto amargo
de seu próprio sangue, ao sofrer afrontas de tais jagunços, pelo simples fato
de ser um Martins.
Logo após a queda de Rabelo, estacionaram na cidade de Ipu, “policiais”,
“jagunços do Padre Cícero” que passaram a hostilizar e perseguir os rabelistas,
notadamente os Martins. Foi deposto da intendência do Município de Ipu, em 3 de
abril, o Tenente Coronel Aprígio Quixadá e dissolvida a Câmara, empossada por
Accioly em 1912 e que havia permanecido no poder mesmo após sua queda.
Foram exonerados do cargo de promotoria de justiça, Dr. Leonardo Mota, e
da delegacia, seu primo Manoel Vitor, ambos ligados aos Martins. Em seguida, os
antigos rabelistas – agora democratas – passaram a ser perseguidos,
hostilizados. O Ipu viveu um verdadeiro banho de sangue.
O Cel. Benjamin Liberato Barroso, que assumiu a presidência do Estado em
junho de 1914, mandou uma força policial para a cidade de Ipu com ordens de
perseguir e aniquilar os rabelistas, notadamente os Martins. A ordem era para
matar e não poupar munição.
João Martins da Jaçanã só complicou as coisas. Mal sabia ele que o poder
dos Martins, de seu grupo, era coisa morta e ainda afrontou a ira do poder
instituído em um momento de ânimos cerrados. Perderia tudo, teria sua fazenda
totalmente destruída, seus parentes afrontados e veria o sangue de pessoas
próximas sendo derramado. Após o ataque a cadeia, João Martins passou a ser o
alvo principal das perseguições. A ordem do governo era para exterminá-lo,
matar seus “capangas”, acabar com sua fazenda, perseguir, afrontar, prender e,
mesmo, matar seus familiares.
Após o episódio do ataque à cadeia, portanto, se seguiu uma intensa
perseguição ao Coronel João Martins, empreendida pelo presidente do Estado.
Seguiu-se, também, uma série de perseguições, espancamentos e assassinatos no
município. Os Martins de Ipu esvaziaram a cidade. Piauí, Ipueiras, Crateús,
Nova Russas foram seus principais refúgios. Só retornaram quando os ânimos
estiveram calmos.
Continua...
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