quarta-feira, 17 de julho de 2013

Educação: um caso de polícia



O desespero diante da aprovação da redução do salário do magistério em Juazeiro do Norte. Fonte: Normando Soares/Agência Miséria

Três fatos recentes, noticiados na grande mídia e ligados à educação pública, me levaram à reflexão e à mesa para escrever este artigo. A primeira notícia não é uma novidade para nenhum de nós, apenas confirmar o óbvio. Pesquisas demonstraram que o professor brasileiro é um dos mais mal pagos do mundo, recebendo uma renda abaixo do Produto Interno Bruto do país. O salário de um docente que atua no ensino fundamental é de apenas 10% do que recebe um professor, na mesma situação, na Suíça, por exemplo. Isso explica a grande disparidade entre os indicadores sociais de um país que reconhece a importância da educação e outro que a despreza.
A segunda notícia, também resultado de estudos, demonstrou que a renda do magistério, no ensino básico, no país, é a menor entre os profissionais de nível superior, embora na década passada a categoria tenha registrado ganhos acima da média dos demais profissionais. Isso explica por que o magistério está entre as profissões menos promissoras e procuradas pelos estudantes.
A terceira notícia é algo surreal, incompreensível, talvez, e estarrecedora. Refiro-me ao ato vergonhoso ocorrido recentemente numa cidade do interior do Ceará. Raimundo Macedo (PMDB), prefeito de Juazeiro do Norte, enviou à Câmara Municipal daquela cidade, no dia 6 de junho, mensagem que reduzia os salários dos professores da rede municipal. A medida foi aprovada por ampla maioria dos vereadores e afetará quase dois mil educadores, que, em alguns casos terão seus salários reduzidos em até 40%.
            A medida foi aprovada numa sessão tumultuada, com protestos dos professores e uso da violência por parte das autoridades. Com a redução, um professor graduado passará a receber, por 20 horas semanais, o salário astronômico de R$ 887,34. Os mesmos edis que aprovaram essa medida imoral recebem, cada um, R$ 10.012,00 (dez mil e doze reais), por mês, para participar de duas sessões plenárias por semana. Cerca de dois mil professores terão, portanto, seus salários reduzidos em até R$ 600,00.
            O caso de Juazeiro do Norte é apenas o exemplo mais acabado e imoral de uma realidade vivida pelo país, já denunciada pelas duas primeiras notícias: a educação básica nunca foi uma prioridade e nunca foi, igualmente, levada a sério. A atitude desse tipo de político, que contribui para a realidade vivida pelos professores que formam o futuro eleitor, demonstra apenas como o conhecimento, o saber e a formação dos cidadãos sãos tratados.
         Podemos perguntar, por um lado, como fez um importante jornalista televisivo, quanto vale um bom professor, aquele que dedicou sua vida ao conhecimento, à leitura, às teorias, à didática, à pesquisa e ao saber, e se esforça para formar pessoas, cidadãos, bons estudantes, bons leitores, seres humanos melhores, bons profissionais. Por outro lado, podemos perguntar, também, quanto vale um político dessa estirpe, um vereador, que, sem discutir com a comunidade, com os interesses coletivos, aprova algo tão imoral e ilegal.
É esse o tipo mais acabado de político que temos e que a maioria elege. É aquele que a população escolhe em troca de vantagens, pouco se importando se ele tem um projeto de governo, atitude ética ou é honesto. Ele é o reflexo do espelho diante do povo.
        Os três casos relatados representam, juntos, um desestímulo à ciência, ao conhecimento, ao saber e à docência.

            A EDUCAÇÃO ESTÁ DE LUTO!
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Um comentário:

  1. e já está pra mandar rezar missa de sétimo dia. Sem contar que os descasos na Educação ultrapassam a questão dos salário, a defasagem é em todo o sistema.

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