domingo, 14 de julho de 2013

Monopólio da voz, monopólio do poder



Assistimos atualmente ao desmonte da máquina de produzir opinião e ganhar eleições da gestão municipal passada. A venda da rádio (FM) Novo Tempo, recentemente, e as negociações para a venda da Rádio Regional foram amplamente noticiadas pela mídia local.
Mais do que transações comerciais, negócios, a posse dos meios radiofônicos locais significa o domínio da opinião pública, controle da fala, do direito de produzir imagens sobre a cidade, pessoas e grupos, do poder de dizer, de fazer crer, convencer.
Os políticos locais descobriram muito cedo o grande poder dos microfones. José Carlos Sobrinho (1993-1996) se manteve, por muito tempo, como forte liderança política, controlando os meios de comunicação: a Rádio Regional, fundada em 1992, foi fundamental para elegê-lo e fazer seus sucessores - Simão Martins de Sousa Torres (1997-2000), Antônia Bezerra Lima Carlos (2001-2004) e Sávio Henrique Pereira Pontes (2009-2012). Maria do Socorro Pereira Torres (2005-2008) só conseguiu vencê-lo, porque, junto com seu marido, Francisco das Chagas Torres Junior (O Torrim), quebrou o monopólio da voz, ao fundar, com seu grupo, a FM Cidade.
Sávio Pontes só desbancou o “Pica-Pau” porque, em parte, dominou três emissoras: a Rádio Regional, a FM Novo Tempo e a Rádio Iracema. Ao vencer, trouxe para o seu lado o proprietário da FM que lhe havia feito oposição e, assim, “calou todo mundo”. Durante o seu governo, sabedor do poder dos microfones, monopolizou, com dinheiro, influência e poder, todos os meios radiofônicos da cidade e não permitiu, mesmo em rádios de outras cidades, usando de seu poder na política estadual e sua influência no jogo partidário, nenhum programa político contra o seu governo.
O direito de falar e dizer sobre o seu governo e sobre a cidade cabia apenas ao seu grupo. Assim, foi capaz de construiu uma imagem de grande empreendedor, articulador, grande político, grande liderança, de pulso forte, intocável, imbatível, e o único capaz de levar a cidade ao desenvolvimento tão sonhado por um povo, da mesma forma, tão sofrido. Tais imagens se mantêm ainda de pé entre os seus correligionários, beneficiados por sua política “agregacionista”.
Apenas no final do seu mandato, num período conturbado, não fora mais capaz de monopolizar a fala. E, creio, essa foi sua grande derrota, ao lado de outros fatores importantes, pois a maneira como fazia uso do erário foi mostrada para uma cidade de descrentes e cegos, que só acreditam nos comunicadores da hora do almoço.
As rádios locais são vendidas, mas permanecem nas mãos de grupos políticos. Por quê? Por que todos descobriram que o seu domínio é essencial para a vitória, para a construção de projetos partidários, pessoais e políticos e para a construção de mitos.
Ora, numa cidade em que o nível de consciência política é extremamente pobre e que o debate, na maioria das vezes, gira apenas em torno dos partidarismos, igualmente de baixo nível, é muito fácil “monopolizar” a opinião. Os microfones, quando nas mãos de pessoas sem ética, sem compromisso com a população, gananciosas, sedentas por poder, cargos, influência e dinheiro, e com talento (para manipular), são capazes de transformar uma senhora de 70 anos numa mocinha formosa de 15; o lobo mau na vovozinha; um grande ladrão, corrupto, no maior político que a cidade já teve: humano, preocupado com os mais pobres, um amor de pessoa! É capaz de transformar um perseguidor, ditador, num defensor das liberdades democráticas. É capaz de transformar o diabo, o capeta, o satanás, num grande DEUS, humano, piedoso, que deve ser adorado.
Com as vendas e compras das rádios, podemos estar assistindo à mesma política, tantas vezes repetida: a tentativa de domínio da voz, da fala. Controlar a comunicação é, de um lado, uma forma de criar uma imagem positiva daqueles que a dominam e, de outro lado, de criar imagens negativas dos seus inimigos. A propaganda transforma o produto, lhe dá forma, permite o consumo, a venda. É uma forma de convencimento e controle das mentes, do passado, da história.
Essa é apenas uma das maneiras de fazer política. Dominar os meios de comunicação, também o legislativo (e seus microfones), e parte do judiciário, é a forma ideal de se manter no poder. Neste caso, a democracia se torna apenas uma mascara capaz de convencer-nos de que o poder reside no povo e de que ele nunca é massa de manobra.
Num lugar onde as pessoas são esclarecidas e reconheçam o valor da ética e da educação, talvez a democracia funcione bem, entre nós não creio nisso plenamente. Ela parece estar apenas a serviço do poder e não passar de uma máscara capaz de maquiar o estado de direito.
Apesar de tudo, e paradoxalmente, a democracia é ainda o melhor e mais seguro caminho que existe. 
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