Os recentes indicadores da educação pública brasileira têm demonstrado a sua baixa qualidade, apontado
para a necessidade não apenas de maiores investimentos na área, mas de uma
política mais arrojada capaz de melhorá-la, sem falar na gestão dos recursos,
que nem sempre chegam como deveriam à escola, por passar por muitas mãos nada
limpas. Para além das críticas que se possa fazer aos atuais métodos de
avaliação do ensino público e interesses por trás deles, é imperativo a mudança
de postura do governo nessa área.
Só
para lembrar dois recentes indicadores da educação básica nacional, o Programa
Internacional de Avaliação Estudantil (Pisa), revelou que numa lista de 65
países, o Brasil, embora tenha avançado em relação às edições anteriores, é
apenas o 58º, abaixo de muitos países pobres, emergentes e com economias mais
frágeis. No Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM-2012), a média dos estudantes egressos
das escolas públicas e que cursavam o último ano do Ensino Médio era ainda muito baixa.
Fiquei
surpreso, no entanto, com as declarações e respostas de burocratas, aqueles que
não conhecem a realidade da sala de aula, na grande mídia, quando perguntados
qual era o problema da escola pública. Foram unânimes em apontar como principal
fator para o péssimo desempenho dos alunos do ensino básico a baixa qualidade
dos professores.
É
essa a resposta dos técnicos que nunca enfrentaram a sala de aula e as belas
escolas públicas (já ensinei numa escola que não tinha luz elétrica e nem
banheiro para os alunos): pesquisa divulgada esta semana mostrou que 44% das
escolas públicas funcionam de modo precário, com nível mínimo de
infraestrutura. Confesso que, quando aluno da graduação, tendia a reproduzir
este discurso. Porém, estando na educação pública há mais de dez anos vejo que
os seus problemas são mais profundos: salas de aula lotadas; falta de
perspectivas dos alunos; alunos vindos de famílias desestruturadas; falta de
compromisso da família com a educação dos filhos; transferência de
responsabilidades sociais e familiares para as escolas; estabelecimentos de
ensino precários, em boa parte; baixos salários dos profissionais, governos
pouco preocupados em melhorar as condições de trabalho e em investir nos
profissionais da educação.
Em
sua maioria, os mesmos professores que atuam no ensino público básico são
aqueles que estão nas belas salas de aula das escolas particulares. Estas dão
excelentes condições de trabalho, geralmente não têm salas com mais do que 30
alunos e não enfrentam os mesmos problemas com alunos que vêm de famílias
desestruturadas. Tudo isso reflete no
desempenho dos educandos. Se os professores são os mesmos, em essência, onde
estão os culpados, então?
Os
problemas da educação pública básica são estruturais e bem mais profundos. Quem
não conhece a realidade da sala de aula tende a culpar os professores pelo baixo desempenho dos alunos.
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