São Sebastião. Por Sandro Botticelli |
No último
dia é realizado o tradicional leilão da paróquia em que as pessoas mais
abastadas e as autoridades da cidade (prefeito e vereadores), em uma “clara
demonstração de religiosidade e amor a terra e ao santo”, aos olhos da
população e no dizer de um padre, se reúnem para arrematar o que a Igreja
recebeu de donativos, da população, “para o santo padroeiro”. A falta de uma autoridade ao evento é (ERA)
vista com maus olhos pela população. [1]
No penúltimo ou último dia
dos festejos, dia 19 ou 20, há uma tradicional festa dançante, autorizada pela
paróquia. Em troca, a Igreja fica com parte da arrecadação.
Mais recentemente, durante
o mês de janeiro e mais ainda, nos 10 dias de festejos, o executivo municipal e
entidades da sociedade civil instituem um cronograma de atividades culturais
para a cidade para receber os filhos ipuenses que escolhem a data para gozar
suas férias na Terra de Iracema.
Exemplos disso é a reunião anual, aberta ao público, da Academia Ipuense de
Letras e Artes (AILCA), cuja maior parte de seus membros, ou pelo menos uma
parte significativa deles, reside em outras cidades, e da tradicional Festa do
Reencontro, organizada pela Associação dos Filhos e Amigos de Ipu (AFAI). É que
a cidade de Ipu, no mês de janeiro, fica apinhada
de devotos e turísticas.
Há ainda muito presente
nos mais velhos uma memória dos “verdadeiros’ festejos de outrora e uma visão negativa
dos festejos atuais. Essa memória espera pacientemente pelas análises dos
historiadores da terra que apenas descrevem, na maioria das vezes, de forma
saudosista, os festejos do padroeiro.
[1] Na cidade de
Ipu, como em outras cidades do interior cearense, as disputas políticas eram (e ainda são) muito acirradas. Há sempre
dois grupos políticos muito fortes que disputam o voto da população. Assim, nos
festejos do padroeiro e, sobretudo no dia do leilão, os grupos políticos rivais,
num passado não tão remoto, compareciam. Na ocasião, tentavam arrematar os
donativos numa clara luta de queda de braço. Parte da população, na hora do
leilão, fazia uma grande algazarra, torcendo pelo seu candidato arrematar uma
simples galinha ou um porco, por exemplo, com o lance mais alto. Muitos ali,
naquele momento, decidiam o seu voto. Os políticos, de outrora, para além de
manterem uma tradição e “preocupação com a saúde financeira da Igreja”, sabiam
disso.
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