Estação Ferroviária de Ipu. Fotografia de 1922. Fonte: Domínio Público |
Nos últimos anos do século XIX a
Estrada de Ferro de Sobral (EFS) chegava à cidade de Ipu. Os trabalhos para o
assentamento dos trilhos começaram, na cidade de Sobral, ainda em 1883. No
mesmo ano, tinha início a construção de sua Estação Ferroviária, inaugurada
cerca de onze anos depois. Em 1894, os trabalhos de assentamento dos trilhos
eram concluídos. A 10 de outubro do mesmo ano, circulava o primeiro trem na
cidade e era inaugurada em uma solenidade “grandiosa” a nova Estação, com a
presença de “grande público” e das autoridades locais.
A construção da Estrada de Ferro de
Sobral foi ordenada pelo governo imperial[1].
Em seu traçado inicial ligaria o porto de Camocim, no litoral norte do Ceará, à
cidade de Sobral, passando por Granja. No entanto, desde o início, já havia o
interesse premente e estudos para se levar o trem a atingir “a rica região” da
Serra da Ibiapaba, cujo ponto final seria a cidade de Ipu, por sua localização
privilegiada no sopé da serra, pelo desenvolvimento econômico e, especialmente,
por sua produção significativa de algodão, desde meados do século XIX,
permitindo, portanto, um canal de comunicação entre a economia local com Sobral
e o porto de Camocim[2].
Já em 1857 o governo imperial havia concedido a Thomaz Dixon Lowden o
privilégio exclusivo por 50 anos para a construção de uma estrada de ferro que,
partindo do porto de Camocim, teria como ponto final a Vila Nova do Ipu Grande[3],
projeto só levado a cabo mais de 30 anos depois, por iniciativa do Estado.
Em Camocim foi erguida uma das mais
amplas, belas e espaçosas estações da EFS e prédios para servirem de oficinas
mecânicas, onde se faziam o trabalho de montagem e manutenção das locomotivas.
Como mostra Jorge Luiz Ferreira Lima, igualmente foram erguidas residências
para altos funcionários (diretores, agentes, engenheiros, contadores) e uma
grande “gare”, imenso galpão onde as locomotivas estacionavam[4].
Em torno da Estação, bem próximo às docas, foram erguidos armazéns que
funcionavam como depósitos para mercadorias importadas de outras regiões do
Brasil e de outros países, uma vez que não tardou para que os vapores e
paquetes, que transportavam pessoas e mercadorias pelos portos brasileiros,
encontrassem, no porto de Camocim, uma rota privilegiada no cobiçado comércio
da assim chamada, à época, Zona Norte do Ceará.
Toda a região que ia de Camocim,
passando por Granja, Sobral e outras cidades, até chegar ao Ipu, se
beneficiaram da ligação da ferrovia com o circuito de transportes marítimos.
Vapores oriundos do Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, São Luis,
Parnaíba e outras localidades, atracavam naquele porto[5].
Segundo o historiador e memorialista, Artur Carneiro de Queiroz, logo que a
Estrada de Ferro foi inaugurada, navios mercantes brasileiros, de forma ainda
incipiente, atracavam no porto. No entanto, estacionavam ali com maior
frequência navios vindos da Inglaterra, Alemanha, Itália e Noruega, trazendo
produtos industrializados e levando artigos e matérias-primas produzidos na
região. Segundo ele, o porto de Camocim era a primeira parada dos navios estrangeiros
no Ceará. Em suas palavras, “a frota
mercante brasileira era incipiente. Chegavam aqui mais navios vindos da
Inglaterra, Alemanha, Itália e Noruega. Traziam produtos industrializados do
Brasil e de fora”[6].
Continua...
[1]
Decreto nº 6.918, datado de 1º de junho de 1878. 100 Anos da RVC. 1870-1970. Notícias.
Edição Centenária. Fortaleza, (s/e), 1970, p. 3-5.
[2]Ver
OLIVEIRA, André Frota de. A Estrada de
Ferro de Sobral. Fortaleza: Expressão Gráfica e Editora LTDA, 1994.
[3] Annaes do Parlamento Brazileiro. Camara
dos Srs. Deputados. Sessão de 1858. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e
Constitucional de J. Villeneuve & C., 1858, p. 248. Versão deste documento
em pdf disponível em: <http://books.google.com.br/books?id=exdAAAAAYAAJ&pg=PA248&lpg=PA248&dq=dixon+lowden+decreto+1983&source=bl&ots=4AEf5w4qyY&sig=zjKEIVuxWkmEXJtzIENxaXEtio&hl=ptBR&ei=5IRoS7_3N4yWtgehwYznBg&sa=X&oi=book_result&ct=result&resnum=2&ved=0CAkQ6AEwAQ#v=onepage&q=dixon%20lowden%20decreto%201983&f=false>.
Acesso em: 03 out. 2012.
[4]
FERREIRA LIMA, Jorge Luiz. Entre caminhos
e lugares do livro: gabinetes de leitura na região norte do Ceará
(1877-1919). 2011. 210 f. Dissertação (Mestrado em História Social) – Centro de
Humanidades, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, p. 29.
[5]
Idem, p. 30.
[6] Revista Cidade
Universitária. Universidade
Estadual Vale do Acaraú. Sobral, mar. 2000, p. 33. Artur Carneiro de Queiroz
(1922-2011) nasceu em Camocim-Ce e foi escritor, memorialista e historiador.
Escreveu Recordações Camocinenses e
outras Memórias e E a Vida
Continua... Ver: QUEIRÓS, Arthur. Recordações
camocinenses e outras memórias. Fortaleza: RBS Gráfica, 2002, e QUEIRÓS,
Arthur. E a vida continua... Camocim:
RPires, 2009.
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, opinião e sugestões. Um forte abraço!