A
terceira questão relacionada ao conceito de Idade Média e que considero
importante para essa discussão, é a noção de periodização. Ela tem sua
importância didática e o seu uso é inevitável, mas coloca também questões para
o pesquisador e estudioso. A periodização é também uma construção, baseada em
escolhas feitas pelo historiador, estabelecendo aquilo que deve ser
lembrado/esquecido. As periodizações são construídas com base em
características estabelecidas para determinado período. O caso da Idade Média
talvez seja o mais significativo.
Estabeleceu-se
para esse momento marcos divisórios que vão do século V ao século XV (mil
anos). É preciso ter em mente que houve muitas rupturas, descontinuidade ao
longo desse tempo, apesar das permanências, e que não se pode homogeneizar esse
período com base em características comuns como fizeram os humanísticas do
século XVI e os nacionalistas do século XIX. Também é preciso esclarecer que a
Idade Média refere-se à história europeia e que os valores defendidos pelos
personagens que a viveram não eram os mesmos em todos os lugares num mesmo
tempo e nem durante todo aquele período.
Em
quarto e último lugar, é preciso ter em mente que a produção sobre qualquer
período histórico é fruto de escolhas dos historiadores, conscientes ou não,
que produzem e, por que não dizer, inventam a história.
Concordamos
com Le Goff quando propõe pensar a Idade Média de modo a historicizá-la em
todas as suas facetas sem essa ou aquela intenção a priori, mas sim com o propósito de pensar o homem em seu tempo. Para
ele, como para Marc Bloch, a “História é a ciência do homem no tempo”, e isso
leva o trabalho historiográfico não para a identificação de fatos e pessoas,
mas para a compreensão sobre as possíveis mudanças de um determinado contexto.
Embora
os estudos sobre a Idade Média tenham se renovado, sobretudo a partir da
chamada História Nova, e tenha inventado um outro conceito do medievo, que
combate as visões cristalizadas, preconceituosas sobre o ele, permanece no
imaginário uma visão negativa para caracterizá-lo. É que quase não há diálogo
entre o que se produz na universidade e o Ensino Básico. Muitas vezes os livros
didáticos demoram para incorporar essas novas produções e acabam reforçando
visões estereotipadas, preconceituosas sobre a Idade Média, com algumas
exceções, é bem verdade.
Dito
de outra forma, embora tenha havido uma renovação no campo dos estudos
medievais, desde Marc Bloch e Lucien Febvre, com a História Nova, que buscaram
pensar a Idade Média com base na história das mentalidades, das imagens e
gestos, do imaginário, alargando e problematizando o seu conceito,
muitas vezes permanece a noção anterior, reforçada pelos manuais
didáticos
Em
primeiro lugar, nem sempre o conteúdo sobre Idade Média presente no livro
didático é escrito por um especialista, o que contribui para falhas. Em segundo
lugar, o mercado livreiro não deixa muito espaço para uma elaboração mais
apurada dos conteúdos presentes nos manuais, o que acaba comprometendo a sua
qualidade, levando à simplificações, construção de padrões gerais, lugares
comuns já superados pela historiografia, o pouco cuidado na exploração dos
documentos e que são reproduzidos, muitas vezes apartados dos textos, apenas em
boxes, e com a iconografia colocada ali apenas para ilustrar, sem que sejam
usadas para permitir a interpretação, o que daria ao aluno a possibilidade de
se familiarizar com os procedimentos básicos do trabalho do historiador.
Muitas
vezes também os professores de história do Ensino Básico têm como única
ferramenta pedagógica, o livro didático, e acabam reforçando o que está escrito
naquele suporte, entendendo-o como a única verdade, não buscando se apoiar na
produção acadêmica.
É
preciso reconhecer, no entanto, que há muitos bons livros didáticos e uma
preocupação maior em incorporar os novos estudos. Para o seu uso, no entanto, é
preciso ao professor estar atento para o fato de que para além da transmissão de
conteúdos já cristalizados é imprescindível que os alunos compreendam que o
conhecimento histórico é resultado de criação, da pesquisa, que comporta
descoberta e invenção. O conhecimento histórico não pode ser encarado como um
amontoado de fatos, nomes e datas, mas como uma disciplina que contribua para a
formação intelectual do indivíduo.
Meu ilustre concordo com você sobre o preconceito sobre a Idade Média, pois até alguns livros falam a Idade das trevas, mas não foi Idade das Travas, pois na mesma tiveram grandes pensadores como Agostinho e Tomás de Aquino sendo teólogo e Filosofo e as Universidades da Europa. Como foi bem formulado a problemática do Professor Vitorino é interessante problematizar os livros didáticos, mas usar nas salas de aula os paradidáticos para fomentar os conhecimentos dos alunos. Abraço! Gilvan Sousa.
ResponderExcluirO tema é interessante e polemico caro Antonio Vitorino, a chamada idade média na realidade trata-se do periodo compreendido entre o esfacelamento do imperio romano que pouco a pouco, após o imperador Diocleciano, foi destruido pela balburdia militar, pelo caos politico que resultou na queda de Roma (476 AD). Entenda que o imperio nao caiu neste exato ano, mas paulatinamnete em todos os anos anteriores em que o caos foi dominando o imperio. Com o caos estabelecido e invasao de varias cidades, incluindo Roma por bárbaros as pessoas foram saindo das cidades, indo morar nos campos e começou entao a dificuldade de acesso a escolas, bibliotecas e foram minguando escritores, poetas, historiadores que encontravamos em grande quantidade antes do chamado declinio de Roma.
ResponderExcluirIdade das trevas porque praticamente desapareceram os grandes intelectuais nos anos que se seguiram. Podemos contar nos dedos de cada mao quantos escritores chegaram aos nossos dias, que viveram em cada século neste periodo até os séculos XIV,XV e XVI. Grande abraço.