Iniciamos
hoje uma nova seção dedicada ao debate historiográfico, voltada mais às discussões
nesse campo de estudo, destinada aos estudiosos de um modo geral e ao estudante
de história em particular. Apresentaremos textos curtos e com uma linguagem
mais acessível ao não iniciado. O texto de hoje faz uma reflexão sobre o livro
didático de história, uma ferramenta que se tornou quase o único recurso pedagógico adotado pelos professores do ensino básico.
Boa
leitura!
A
primeira questão a ser colocada é de que o livro didático é material elaborado
para nortear as práticas de mediação do conhecimento dentro das salas de aula
no ensino básico. Tem como papel central auxiliar no processo pedagógico. É uma
ferramenta produtora de conhecimento reconhecida pelas instâncias educacionais
superiores. É amplamente utilizado pelos professores que, por vezes, preparam
as suas aulas tomando-o como única referência ao transformá-lo no próprio
currículo. Assim, os conteúdos a serem ensinados já estão selecionados
previamente. Neste último caso, isso é resultado, em parte, de uma precária
formação dos professores.
Utilizado como única ferramenta na
condução da aprendizagem na disciplina de história, coloca alguns problemas. Em
primeiro lugar, no que se refere a forma pela qual apresenta os conteúdos,
parte dos manuais didáticos trazem um conhecimento categórico, característica
perceptível pelo discurso unitário e simplificado que reproduz o conhecimento,
não deixando margem para a contestação. Ao expressar uma “verdade”, bastante
impositiva, não abrem espaço para a contestação ou confronto[1].
Em segundo lugar, como esclarece
Circe Bittencourt[2], o
livro didático é, antes de tudo, uma mercadoria, um produto do mundo da edição
que obedece à evolução das técnicas de fabricação e comercialização
pertencentes à lógica do mercado. É também, um suporte básico e sistematizador
privilegiado dos conteúdos escolares elencados pelas propostas curriculares,
além de ser, é verdade, um instrumento pedagógico e, finalmente, um veículo
portador de um sistema de valores, de uma ideologia, de uma cultura.
Como mercadoria, inserida nos
ditames do mercados e da indústria cultural, o livro didático está sujeito a
muitas interferências em seu processo de produção e vendagem. Para as editoras,
por exemplo, importa menos a orientação metodológica ou ideologia contida em
uma coleção e mais a sua capacidade de vendagem e adequação ao comprador. Nesse
processo que envolve interesses diversos, nem sempre a preocupação com a
qualidade do texto, exclusivamente acadêmica, é respeitada. O livro didático,
como produto cultural, transmite o posicionamento de seu autores, expressam
leituras, posicionamentos políticos, ideológicos e pedagógicos.
Portanto, os manuais didáticos não
são apenas ferramentas pedagógicas, mas também recortes de seleções culturais
variáveis, de verdades a serem transmitidas às novas gerações, veiculador de
visões de mundo de seu produtor.
Os manuais pedagógicos possuem como
objetivo a transposição dos saberes acadêmicos para o espaço escolar,
consubstanciadas com base em textos, representações, imagens. A sua
materialização envolve também concepções educacionais, políticas, sociais e
pedagógicas que, em conjunto, transmite uma visão de mundo que determina a
diagramação aplicada, a construção dos conteúdos, a estrutura da narrativa e os
exercícios propostos[3].
Um grande problema que podemos
levantar é que os textos e imagens presentes no livro didático são geralmente
percebidos como verdades históricas por partes não apenas dos alunos, mas
também por parte dos docentes.
Continua...
Continua...
[1] BITTENCOURT. Circe. Ensino de
História: fundamentos e métodos. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2008, p. 313.
[2] Idem.
[3] MARTINS, M. B. e MATOS, J. S. Ensino
de história moderna no livro didático: representações dos gêneros. XXVII Simpósio
Nacional de História. Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1371331576_ARQUIVO_EnsinodeHistoriaModernanoLivroDidaticoRepresentacoesdosGeneros.pdf>.
Acesso em: 23 de jan. 2016.
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