Sentido do romance
Um
dos temas do romance, o ideal de beleza e perfeição, remete às influências da
cultura grega. Remete ao mito de Narciso, que cultua a sua própria imagem e
vive em função dela. Dorian Gray, um jovem belo e ingênuo, só reconhece sua
própria beleza quando Basil pinta o seu retrato e Dorian está diante dele
mesmo: “Ao vê-lo, recuou, e as maçãs de seu rosto erubesceram de prazer por um
instante. Um ar de felicidade surgiu em seus olhos, como se lhe houvesse se
reconhecido pela primeira vez. Ficou parado, imóvel, espantado, com uma
consciência vaga de que Hallward estava falando com ele, mas sem apreender o
significado das palavras. O sentido da própria beleza o assaltou como uma
revelação. Ele nunca o tinha sentido antes”. (p. 34).
Como
Narciso, que só reconheceu sua beleza ao ver a sua imagem refletida na água,
Dorian só reconhece sua beleza ao estar diante de seu próprio retrato.
Também,
como no Fausto de Goethe, o personagem central, Dorian Gray,
bem que poderia ter feito um pacto com o demônio, vendendo sua alma em troca da
beleza, juventude eterna, prazeres e poder. Embora não tenha feito nenhum
pacto, a sua beleza e juventude resistem ao tempo. Dorian exprime seus
sentimentos na seguinte passagem: “ ‘Como é triste!’ murmurou Dorian Gray, com
os olhos ainda fixos no próprio retrato. ‘Como é triste! Eu vou ficar velho e
horrendo e medonho. Ele jamais envelhecerá além deste dia de junho... Se
pudesse ser diferente! Se eu permanecesse sempre jovem e o retrato
envelhecesse! Por isso – por isso – eu daria tudo! Sim, não há nada em todo o
mundo que eu não daria! Daria a minha alma por isso’”!
O
herói do romance parece ter sido o personagem trágico criado por Oscar Wilde
para atacar os valores puritanos. A obsessão de Dorian com o belo, a beleza
superficial, e do prazer estava em desacordo com a moral arraigada da sociedade
vitoriana na Inglaterra do século XIX. É um claro ataque à ideia de que a moral
faz um grande homem e os pecados perturbam a consciência.
Oscar
Wilde era adepto de um movimento chamado esteticismo, que defendia a “arte pela
arte”, isto é, o que interessa é apenas o belo. Apenas o belo era a solução
para os malefícios da sociedade. A arte poderia servir como um ataque ao
tradicionalismo da sociedade inglesa da época vitoriana. Nesse sentido, seu romance
não tinha pretensão alguma de trazer ensinamentos ou defender uma moral, uma
postura.
Outro
personagem, o Lorde Henry, parece ter sido criado para atacar os valores morais
e a conduta aristocrática dos salões londrinos. A alta sociedade, civilizada,
parecia viver, aos olhos de Wilde, mais da aparência do que de sua essência,
que procura esconder seus pequenos “defeitos” em nome de uma posição de
respeitabilidade e status social, o que se pode chamar de hipocrisia. Henry
representa, ao que parece, o desejo de muitos: viver uma vida de prazeres sem
se importar muito com suas consequências, embora essa vida seja levada a termo
apenas por aquele que seduziu, o jovem Dorian Gray.
O
romance também traz para discussão um tema que inquieta a humanidade: o medo de
envelhecer. Questiona também a beleza, a juventude e os valores morais da
sociedade.
Parece
existir uma pergunta implícita no romance: o que mais vale: o corpo ou a alma?
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