quarta-feira, 27 de março de 2013

João Martins da Jaçanã e o Caso do Ipu - Parte IV



Augusto Passos. Uma das vítimas à perseguição ao Grupo dos Martins.  Fonte:  Revista dos Municípios, 1929.  Do acervo de Francisco de Assis Martins (prof. Melo)


Espinheiro e seus soldados correram o sertão à caça de João Martins e, por onde passavam, deixavam um rastro de espancamentos e sangue.
Naqueles sombrios dias todos aqueles que fossem parentes dos Martins e mesmo seus amigos mais próximos, passaram a ser perseguidos, alguns foram presos e outros vítimas de violências.
Em fevereiro de 1915, Espinheiro mandou 12 soldados ao termo de Ipueiras, para buscar presos José Cesário Martins, com sobrinhos e genros de João Martins. Como estes declaram não saber do paradeiro do destemido procurado, foram espancados barbaramente, deixados como mortos no pátio da Fazenda Jaçanã.
No dia 8 de fevereiro o alfaiate Antônio Mororó foi espancado, por ser sobrinho de João Martins. O Major Joaquim Porfírio de Farias, ancião respeitado, passou 8 dias presos na cadeia da cidade, pelo fato de ter “cometido um crime”: ser parente e amigo de João Martins, e ai daquele que tivesse a audácia de impetrar um habeas Corpus em seu favor! O capitão José de Farias, membro do diretório do Partido Democrata, agora reduto dos rabelistas e dos Martins, fugiu da cidade para salvar sua pele e, por mais de um mês, viveu escondido no mato. Cel. José Lourenço, não esperou os golpes do punhal de Espinheiro, abandonou seus negócios e amigos e com a família se escondeu nos sertões de Crateús. Augusto Passos, advogado e Promotor Público, destituído do cargo, e ligado aos Martins, passou um dia no mato, enquanto os soldados vasculhavam sua residência. Depois se mandou para o Piauí, onde ficou cerca de dois meses, para não conhecer a fúria de Espinheiro. Ainda, Osório Martins, que em 1914 conhecera o fio da navalha dos “afilhados do Padre Cícero”, rumou para uma “temporada de caça” no Piauí, onde passou algum tempo. Como a estiagem se prolongava, conseguiu matar alguns calangos, antes de retornar!
Em Ipueiras a casa do Cel. Vicente Possidônio serviu de abrigo ao acolher muitos rabelistas de Ipu.     
Os Martins, grupo político que até então (1914) controlara o poder local não só foram brutalmente banidos de seus cargos, pelo menos num curto período de tempo, mas também duramente perseguidos. Muitos só conseguiram se livrar das prisões, espancamentos, humilhações e mesmo assassinatos, fugindo de seu torrão natal.
É importante notar que o grupo político que assumiu o poder no município, embora em alguns momentos mantivesse uma acirrada oposição aos Martins, não pactuava com a violência dessas perseguições. Pelo contrário, procuram inicialmente barrá-las e, em alguns casos, buscaram a conciliação entre as partes. Porém, estiveram de mãos atadas. Nem o intendente (prefeito), nem o Juiz de Direito da Comarca e, nenhuma autoridade municipal tinha poder para deter as violências praticadas na Terra de Iracema, com o aval do Presidente do Estado.
Os Aragão que assumiram o poder no município com todos os seus “agregados”, compadres e afins, tentaram sem sucesso deter aquela onda de perseguições na, até então “pacata” Ipu. O próprio intendente municipal à época do Governo de Benjamin Barroso, o Cel. José Raimundo de Aragão Filho, tentou, sem sucesso, impedir a caça ao Cel. João Martins da Jaçanã, com quem possuía boas relações.
Os Aragão estiveram de mãos atadas, portanto. Esperaram tanto tempo para sentir o doce gosto do poder, e, quando, enfim, conseguiram, o seu sabor transformou-se em fel. Tinham o poder de direito, isto é, juridicamente, mas não de fato. Tinham os cargos, mas não apitavam nada.
1915 pode ser tido como o ano em que o sangue dos Martins foi derramado sobre a fina areia do sertão, acostumada ao rústico e amargo sangue de seus inimigos. E a muralha, ao longe, foi testemunha deste episódio. Os coronéis de Ipu sentiram na própria pele o remédio que receitavam aos seus inimigos. Que a história não esqueça deles.


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3 comentários:

  1. Adoro essa historia, gostaria de ler o livro, O coronel João Martins da
    Jaçanã, escrito por Francisco Magalhães Martins, porem não encontro em lugar nenhum, nem mesmo no google. Se for possível me ajudar agradeço desde já! Parabéns pelo blog!!

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  2. Tenho uma cópia do livro. Caso queira reproduzi-lo, basta passar aqui em casa... Você mora em Ipu?
    Abraços,
    Att. Prof. Vitorino.

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