quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Educação Básica, um caso de polícia!




Os recentes embates entre os professores da rede municipal do Rio de Janeiro, em greve há mais de dois meses, e o uso do aparato repressor do governo carioca para lidar com a categoria, expõem para a nação mais um claro exemplo de retrocesso de nossa democracia e o perigo de retorno de um estado de exceção, próprio das ditaduras mais sanguinárias. O mais chocante é que, neste último caso, a violência e a truculência da polícia tinham como alvos os profissionais da educação, os professores, que legitimamente se manifestavam contra o desmonte da educação pública levada a cabo pelo governo da “cidade maravilhosa”, contra o arrocho salarial, a precarização das condições de trabalho e a implantação de uma política meritocrática e de cunho produtivista, impondo aos profissionais da educação bônus e gratificações, no lugar de adotar uma política de salários dignos.
O que esperar de um governo e de um país que tratam o professores dessa forma?
Qual tem sido a postura dos governos frente às manifestações e aos movimentos sociais? De um lado, têm eles adotado a repressão violenta, demonstrado, em primeiro lugar, sua incapacidade/incompetência de negociar democraticamente, e, em segundo lugar, o seu despreparo para lidar com tais manifestações. De outro lado, governo e polícia, o seu braço armado, criminalizam os movimentos sociais e aqueles reivindicatórios, tratando seus membros como bandidos.
Os governos tratam os movimentos de reivindicação como se eles não fossem legítimos, como se não fosse legítimo protestar e defender melhores condições de vida.
O caso do Rio de Janeiro é tão gritando e vergonhoso que o Supremo Tribunal teve que intervir, impondo ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), que se revelou um verdadeiro ditador, o diálogo com os professores, após impor, juntamente com sua ampla base de apoio na Câmara Municipal, um Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR), sem nenhum diálogo com os professores ou com os vereadores de oposição, nocivo à classe, enquanto a polícia, com sua truculência e violência desmedidas, a mando de seus superiores, transformava o centro do Rio, no entorno da Câmara Municipal, em praça de guerra, batendo sem piedade nos professores desarmados.
Os governantes parecem ter uma concepção simplificada de democracia. Acham que, porque foram eleitos pelo voto popular, podem legitimamente decidir tudo em nome do povo, sem o povo e que qualquer manifestação contrária às suas decisões é antidemocrática, recusando-se a negociar com os cidadãos: tal é o caso do prefeito do Rio.
A desvalorização do professor pelo poder público se traduz na desvalorização dos alunos, pois a formação destes depende da valorização do docente. Não investir em educação, como se deveria, significa manter os alunos num grau de precariedade tal e, o que é pior, incapazes de eleger políticos compromissados com a lisura, a honestidade e o compromisso com os cidadãos (a maioria). Não investir em educação, no professor, significa, em última instância, manter a nação no patamar “honroso” em que ela está: um país de políticos corruptos, como boa parte de sua população.
Uma pesquisa divulgada recentemente, no momento mesmo em que os professores apanhavam da polícia do Rio, mostrou que, entre 21 países, o Brasil fica em penúltimo lugar em relação ao respeito e à valorização dos professores. Não é de se estranhar, portanto! Outros estudos já haviam demonstrado que o professor brasileiro é um dos mais mal pagos do mundo, que a remuneração de um docente do Ensino Fundamental, aqui, é apenas de 10% do que recebe um professor, na mesma situação, na Suíça e de que, a renda no magistério, no Ensino Básico, no país, é a menor entre os profissionais de nível superior.
Não é preciso ser nenhum iniciado no assunto para perceber que o magistério vem sofrendo, ao longo de décadas, um processo de desvalorização que se traduz não apenas numa remuneração inadequada, mas também na falta de estrutura das unidades escolares, na falta de reconhecimento da profissão por parte da sociedade e até na violência e truculência usadas pelos governos para tratar com a categoria, como temos assistido com perplexidade.
A desvalorização do magistério tem levado a uma desmotivação dos profissionais e a perda de atratividade para a carreira, o que se traduz na falta de professores. Só no Ceará, de acordo com o Sindicato dos Professores do Estado do Ceará (Apeoc) há uma carência de 5 mil docentes.
Diante de uma realidade tão adversa, um mundo com oportunidades evidentes e carreiras promissoras, quem escolhe o magistério?
O que esperar de uma nação que trata seus educadores com o cacete na mão?
A educação se tornou um caso de polícia! É lamentável!


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