Os recentes embates entre os professores da rede municipal do Rio
de Janeiro, em greve há mais de dois meses, e o uso do aparato repressor do
governo carioca para lidar com a categoria, expõem para a nação mais um claro
exemplo de retrocesso de nossa democracia e o perigo de retorno de um estado de
exceção, próprio das ditaduras mais sanguinárias. O mais chocante é que, neste
último caso, a violência e a truculência da polícia tinham como alvos os
profissionais da educação, os professores, que legitimamente se manifestavam
contra o desmonte da educação pública levada a cabo pelo governo da “cidade
maravilhosa”, contra o arrocho salarial, a precarização das condições de
trabalho e a implantação de uma política meritocrática e de cunho produtivista,
impondo aos profissionais da educação bônus e gratificações, no lugar de adotar
uma política de salários dignos.
O que esperar de um governo e de um país que tratam o professores
dessa forma?
Qual tem sido a postura dos governos frente às manifestações e aos
movimentos sociais? De um lado, têm eles adotado a repressão violenta,
demonstrado, em primeiro lugar, sua incapacidade/incompetência de negociar
democraticamente, e, em segundo lugar, o seu despreparo para lidar com tais
manifestações. De outro lado, governo e polícia, o seu braço armado,
criminalizam os movimentos sociais e aqueles reivindicatórios, tratando seus
membros como bandidos.
Os governos tratam os movimentos de reivindicação como se eles não
fossem legítimos, como se não fosse legítimo protestar e defender melhores
condições de vida.
O caso do Rio de Janeiro é tão gritando e vergonhoso que o Supremo
Tribunal teve que intervir, impondo ao prefeito Eduardo Paes (PMDB), que se
revelou um verdadeiro ditador, o diálogo com os professores, após impor,
juntamente com sua ampla base de apoio na Câmara Municipal, um Plano de Cargos,
Carreira e Remuneração (PCCR), sem nenhum diálogo com os professores ou com os
vereadores de oposição, nocivo à classe, enquanto a polícia, com sua
truculência e violência desmedidas, a mando de seus superiores, transformava o
centro do Rio, no entorno da Câmara Municipal, em praça de guerra, batendo sem
piedade nos professores desarmados.
Os governantes parecem ter uma concepção simplificada de
democracia. Acham que, porque foram eleitos pelo voto popular, podem
legitimamente decidir tudo em nome do povo, sem o povo e que qualquer
manifestação contrária às suas decisões é antidemocrática, recusando-se a
negociar com os cidadãos: tal é o caso do prefeito do Rio.
A desvalorização do professor pelo poder público se traduz na
desvalorização dos alunos, pois a formação destes depende da valorização do
docente. Não investir em educação, como se deveria, significa manter os alunos
num grau de precariedade tal e, o que é pior, incapazes de eleger políticos
compromissados com a lisura, a honestidade e o compromisso com os cidadãos (a
maioria). Não investir em educação, no professor, significa, em última
instância, manter a nação no patamar “honroso” em que ela está: um país de
políticos corruptos, como boa parte de sua população.
Uma pesquisa divulgada recentemente, no momento mesmo em que os
professores apanhavam da polícia do Rio, mostrou que, entre 21 países, o Brasil
fica em penúltimo lugar em relação ao respeito e à valorização dos professores.
Não é de se estranhar, portanto! Outros estudos já haviam demonstrado que o
professor brasileiro é um dos mais mal pagos do mundo, que a remuneração de um
docente do Ensino Fundamental, aqui, é apenas de 10% do que recebe um
professor, na mesma situação, na Suíça e de que, a renda no magistério, no
Ensino Básico, no país, é a menor entre os profissionais de nível superior.
Não é preciso ser nenhum iniciado no assunto para perceber que o
magistério vem sofrendo, ao longo de décadas, um processo de desvalorização que
se traduz não apenas numa remuneração inadequada, mas também na falta de estrutura
das unidades escolares, na falta de reconhecimento da profissão por parte da
sociedade e até na violência e truculência usadas pelos governos para tratar
com a categoria, como temos assistido com perplexidade.
A desvalorização do magistério tem levado a uma desmotivação dos
profissionais e a perda de atratividade para a carreira, o que se traduz na
falta de professores. Só no Ceará, de acordo com o Sindicato dos Professores do
Estado do Ceará (Apeoc) há uma carência de 5 mil docentes.
Diante de uma realidade tão adversa, um mundo com oportunidades
evidentes e carreiras promissoras, quem escolhe o magistério?
O que esperar de uma nação que trata seus educadores com o cacete
na mão?
A educação se tornou um caso de polícia! É lamentável!
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