sábado, 15 de fevereiro de 2014

Pinceladas Vibrantes I



A Pintura Impressionista

Claude Monet. Femme à l'ombrelle (mulher com sombrinha), 1875. Óleo sobre tela.

A pintura impressionista me fascina, em primeiro lugar, por ter sido, em sua época, rebelde. Os pintores dessa nova técnica romperam com regras da pintura oficial, uma vez que foram marginalizados pela estrutura artística estatal francesa, que selecionava as obras a ser admitidas nos salões. Em segundo lugar, por ter escolhidos como um de seus temas o cotidiano ou a vida moderna na segunda metade do século XIX, sendo, pois, uma fonte importante para analisar a sociedade da época.
As transformações pelas quais passou a Europa na segunda metade do século XIX acabaram por modificar radicalmente o conceito estético que tinha servido de guia para a produção artística durante os séculos anteriores e surgiram novas vias de investigação nessa área que resultaram em formas de expressão muito diferentes. Isso se refletiu nas artes: literatura, escultura, arquitetura. Na pintura, gerou o “movimento” que ficou conhecido como impressionismo.
Hoje gostaria de analisar apenas um dos quadros de Édouard Manet, um dos autores impressionistas e que elegeram temas parisienses e da vida moderna, precisamente por eu ser um fascinado pesquisador da modernidade fin-de-siècle.
La musique aux Tuileries, 1862, Óleo sobre tela. Londres, coleção da National Gallery

O quadro, “Música no palácio de Tulherias” é uma reunião de retratos tratados de maneira alusiva em pincelada de branco e negro, retocadas por algumas cores mais vibrantes, sobre uma abóboda de folhagens pintada com grande liberdade[1]. Manet retrata um dos salões elegantes da Paris, capital do século XIX na expressão de Walter Benjamin[2], onde só era recebida a alta aristocracia (barões, baronesas, marqueses, condes, príncipes, que ainda mantinham seus títulos e sua linhagem) e a ascendente burguesia enriquecida. Tais locais funcionavam como importantes espaços de afirmação de posições, poder e riqueza. De um lado, parte dessa aristocracia em decadência buscava estes espaços com o objetivo de encontrar maridos e esposas para seus filhos entre burgueses enriquecidos com as oportunidades do crescimento econômico, mais fáceis após a revolução industrial, na esperança de sair da crise, ainda que considerassem essa burguesia com base em sua visão de mundo aristocrática, e que a desprezava. Por outro lado, as famílias burguesas enriquecidas também iam a estes espaços com a esperança de serem aceitas nos fechados círculos aristocráticos, em busca de posição, e, em parte, de maridos e esposas para seus filhos no seio da decadente aristocracia, como estratégia de ascender socialmente. Ambos, no entanto, buscavam os salões para sociabilizar-se e viver a frivolidade, segundo Baudelaire, do mundo moderno.
Na literatura francesa, Marcel Proust nos permite entender melhor os salões aristocráticos de fins do século XIX em sua obra À la recherche du temps perdu, romance publicado no Brasil em sete volumes com o título de Em busca do tempo perdido, fazendo uma crítica a eles por sua frivolidade, hipocrisia e tagarelice vazia, sobretudo no terceiro volume, O caminho de Guermantes.

Continua...




[1] LOBSTEIN, Dominique. Les Impressionistes. Cavalier Bleu, coll. Idées Reçues.

[2] BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte/São Paulo: Editora da UFMG/IMESP, 2007. 




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