domingo, 1 de março de 2015

Imprensa e cidade: o jornalismo no início do século XX em Ipu-Ce. Parte IV



As páginas seguintes, com exceção da quarta, totalmente dedicada aos anúncios, traziam as notícias regionais (do Ceará), nacionais e internacionais, colhidas nos inúmeros periódicos de outras praças, assinados por seus redatores e recebidos pelo sistema de correios. Quando os serviços de correios ficavam temporariamente suspensos, por problemas técnicos, que impossibilitavam a circulação dos trens da Estrada de Ferro de Sobral, muito comum em invernos fortes, cujas águas das chuvas danificavam os trilhos e trechos da ferrovia, os redatores deixavam de noticiar os eventos nacionais e internacionais.
        Também noticiava sobre os acontecimentos locais, dedicando grande espaço para dar visibilidades aos saraus e soirées realizados periodicamente pelo Grêmio Ipuense e pelos salões dos “palacetes” das famílias abastadas, bem como, aos chamados Assaltos organizados pelas moças oriundas da, assim denominada, “fina sociedade”. Todos compunham a seção intitulada Revista Social, que anunciava também os aniversariantes do mês, os batizados, casamentos, visitantes ilustres, que passavam pela cidade, e noticiava sobre aqueles que viajavam para outras paragens.
        Algumas edições davam grande destaque, em suas páginas, para as crônicas e para longos artigos, especializados em leis, escritos pelos bacharéis, juízes e entendidos em direito. Eusébio de Sousa, Souto Maior e Apolônio de Barros escreveram alguns deles.
        Mas também o jornal tinha um componente literário muito forte, característica da imprensa do final do século XIX e primeiras décadas do século XX, como anotam os trabalhos de Werneck Sodré[1] e Juarez Bahia[2], Brito Broca[3],  Machado Neto[4], Antonio Candido[5],  dentro outros, publicando com destaque, como ressaltamos, belas poesias. Além daquela que geralmente vinha impressa na primeira página, dedicada a um poeta cearense, a terceira página trazia a transcrição de outra composição poética, agora de um autor consagrado nacionalmente, quase sempre um soneto. Ao lado disso, abria espaço para as chamadas palestras literárias e discursos retóricos, alguns deles proferidos por Leonardo Mota, tido por seus pares como grande orador.
        Após nove meses de circulação (março-novembro), a Gazeta encerrou seus trabalhos com o número 33, de 28 de novembro de 1913. Os motivos de sua “morte” são quase totalmente ignorados tanto por Eusébio de Sousa quanto por Oswaldo Araújo, nos trabalhos que falam sobre o nascimento e desenvolvimento da imprensa local. O primeiro, que na verdade apresenta uma justificativa para isso, apenas diz que “a Gazeta, por força de circumstancias momentosas – a retirada temporária desta cidade de seu director suspendeu a sua atividade”[6].

Continua





[1] SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. São Paulo: INTERCOM; Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. A primeira edição data de 1966.
[2] BAHIA, Benedito Juarez. História, jornal e técnica: história da imprensa brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2009. Vol. 1. A primeira edição data de 1964.
[3] BROCA, Brito. A vida literária no Brasil – 1900. 4. ed. Rio de Janeiro: Jose Olympio; Academia Brasileira de Letras, 2004.
[4] MACHADO NETO, Antônio Luís. Estrutura social da república das letras: sociologia da vida intelectual brasileira, 1870-1930. São Paulo, Grijalbo: Editora da Universidade de São Paulo, 1973.
[5] CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 8. ed. São Paulo; T. A. Queiroz; Publifolha, 2000 (Grandes nomes do pensamento brasileiro).
[6] SOUSA, Eusébio. Um pouco de Historia. Op. cit., p. 228.
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