As páginas seguintes, com exceção da
quarta, totalmente dedicada aos anúncios, traziam as notícias regionais (do
Ceará), nacionais e internacionais, colhidas nos inúmeros periódicos de outras
praças, assinados por seus redatores e recebidos pelo sistema de correios.
Quando os serviços de correios ficavam temporariamente suspensos, por problemas
técnicos, que impossibilitavam a circulação dos trens da
Estrada de Ferro de Sobral, muito comum em invernos fortes, cujas águas das
chuvas danificavam os trilhos e trechos da ferrovia, os redatores deixavam de
noticiar os eventos nacionais e internacionais.
Também noticiava sobre os acontecimentos
locais, dedicando grande espaço para dar visibilidades aos saraus e soirées
realizados periodicamente pelo Grêmio
Ipuense e pelos salões dos “palacetes” das famílias abastadas, bem como,
aos chamados Assaltos organizados
pelas moças oriundas da, assim denominada, “fina sociedade”. Todos compunham a
seção intitulada Revista Social, que
anunciava também os aniversariantes do mês, os batizados, casamentos,
visitantes ilustres, que passavam pela cidade, e noticiava sobre aqueles que
viajavam para outras paragens.
Algumas edições davam grande destaque,
em suas páginas, para as crônicas e para longos artigos, especializados em
leis, escritos pelos bacharéis, juízes e entendidos em direito. Eusébio de
Sousa, Souto Maior e Apolônio de Barros escreveram alguns deles.
Mas também o jornal tinha um componente
literário muito forte, característica da imprensa do final do século XIX e
primeiras décadas do século XX, como anotam os trabalhos de Werneck Sodré[1]
e Juarez Bahia[2], Brito
Broca[3], Machado Neto[4],
Antonio Candido[5], dentro outros, publicando com destaque, como
ressaltamos, belas poesias. Além daquela que geralmente vinha impressa na
primeira página, dedicada a um poeta cearense, a terceira página trazia a
transcrição de outra composição poética, agora de um autor consagrado
nacionalmente, quase sempre um soneto. Ao lado disso, abria espaço para as
chamadas palestras literárias e discursos retóricos, alguns deles proferidos
por Leonardo Mota, tido por seus pares como grande orador.
Após nove meses de circulação
(março-novembro), a Gazeta encerrou
seus trabalhos com o número 33, de 28 de novembro de 1913. Os motivos de sua
“morte” são quase totalmente ignorados tanto por Eusébio de Sousa quanto por
Oswaldo Araújo, nos trabalhos que falam sobre o nascimento e desenvolvimento da
imprensa local. O primeiro, que na verdade apresenta uma justificativa para
isso, apenas diz que “a Gazeta, por força de circumstancias momentosas – a
retirada temporária desta cidade de seu director suspendeu a sua atividade”[6].
Continua
Continua
[1] SODRÉ, Nelson Werneck. História da imprensa no Brasil. São
Paulo: INTERCOM; Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011. A primeira edição data de 1966.
[2]
BAHIA, Benedito Juarez. História, jornal
e técnica: história da imprensa brasileira. 5. ed. Rio de Janeiro: Mauad X,
2009. Vol. 1. A primeira edição data de 1964.
[3]
BROCA, Brito. A vida literária no Brasil
– 1900. 4. ed. Rio de Janeiro: Jose Olympio; Academia Brasileira de Letras,
2004.
[4] MACHADO NETO,
Antônio Luís. Estrutura social da
república das letras: sociologia da vida intelectual brasileira, 1870-1930.
São Paulo, Grijalbo: Editora da Universidade de São Paulo, 1973.
[5]
CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade.
8. ed. São Paulo; T. A. Queiroz; Publifolha, 2000 (Grandes nomes do pensamento
brasileiro).
[6]
SOUSA, Eusébio. Um pouco de Historia. Op. cit., p. 228.
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