Todos
ficamos chocados com o “massacre de Paris”, o maior ataque terrorista, pode-se
dizer, levado a cabo não simplesmente contra a França, mas contra um dos
valores fundamentes de seu povo, e do ocidente, desde a Revolução Francesa: a liberdade. Sobretudo, a liberdade de
expressão. O assassinato de 12 inocentes, por extremistas islamizados, foi
justificado como uma vingança em nome de Maomé, fundador do islamismo, por ter
sido insultado pelo pasquim parisiense (Charlie Hebdo).
O
ataque de Paris teve, sem dúvida, motivações religiosas, mas a questão central
é de ordem política, e não se trata, creio, de uma luta entre duas civilizações:
de um lado, o ocidente cristão e, de outro, o "oriente" islâmico. A questão
mereceria uma atenção mais demorada, o que não proponho fazer aqui nesse momento.
É difícil precisar os fatores que levaram ao massacre de Paris. O ressentimento
de radicais islâmicos contra a atitude dos cartunistas mortos, de desrespeitos
a alguns de seus valores religiosos, pode explicar, em parte, o evento. Com uma
forte tradição anticlerical, na esteira de Voltaire “o sarcástico”, os
jornalistas liderados por Charlie adotaram um profundo e revoltante deboche contra as religiões: católicos, judeus e muçulmanos eram sempre os seus alvos prediletos,
bem de acordo com seus ideais profundamente laicizados. Em sua maioria eram
ateus, não poupando ataques à crença de tudo e todos.
É preciso esclarecer que a maioria
do povo muçulmano é pacifista e não é absolutamente a favor do tipo de ação que
chocou a França e todos nós.
O episódio, acredito, despertará o
debate sobre a liberdade de expressão e até que ponto se dever colocar limites
a ela, evitando-se artigos e desenhos que ofendam desrespeitosamente a fé religiosa. Se, de um lado, as charges podem ser interpretadas pelos franceses como de mau gosto, por outro, podem ser
interpretadas, pelas vítimas, como uma ofensa, sacrilégio e falta de respeito.
Há um desencontro entre o riso ocidental e a ofensa ao mundo muçulmano. Creio
que os jornalistas franceses ultrapassaram a barreira do que se pode tolerar, o
que não justifica, é óbvio, o ato bárbaro, inadmissível, dos terroristas.
Na relação entre a liberdade de expressão e os valores religiosos é preciso refletir até que ponto a fronteira
da mera sátira não é violada e caímos no erro de incitar o ódio. Talvez os
cartunistas tenham violado essa fronteira.
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