Estação Ferroviária ao Fundo, sem data. Fonte: fotografia extraída do site http://www.estacoesferroviarias.com.br/ce_sobral/ipu.htm. A fotografia original pertence ao professor Francisco de Assis Martins (prof. Melo) |
Histórico da Estrada de Ferro de Sobral
O
Governo Imperial, na época, autorizou a construção de uma ferrovia que ligaria
o porto de Camocim à cidade de Sobral. O objetivo seria, segundo os discursos,
salvar “o povo faminto” do Ceará, isto é, minorar os efeitos da seca
(1877-1879) que assolava o Estado no final do século XIX. A construção da
ferrovia deveria proporcionar trabalho a milhares de flagelados e facilitar a
distribuição de alimentos para a população necessitada.
A construção da Estrada de
Ferro de Sobral, como foi denominada, teve início em 1878, autorizada por um
decreto imperial de 1º de junho. Já em março do ano seguinte foi iniciado em
Camocim o assentamento dos trilhos. As primeiras estações foram inauguradas
após o fim da seca de 1877-1879. Em 1881 foram inauguradas as estações de
Camocim e de Granja, ambas a 15 de janeiro – Angica, 14 de março; Pintobeiras –
atual Senador Sá, 2 de junho; Massapé, 31 de dezembro. Em 1882 foi inaugurada a
estação de Sobral (31 de dezembro), e em 1894, a estação do Riachão – atual
Uruoca (10 de janeiro).
Ainda em 1883, tiveram
início em Sobral os trabalhos para o prosseguimento da ferrovia até a cidade de
Ipu, cujo objetivo era atender a “rica serra da ibiapaba”.
Rumando em direção a
Ibiapaba, a primeira estação a ser inaugurada foi a de Cariré (1º de novembro
de 1893), depois Santa Cruz – atual Reriutaba (1º de dezembro de 1893), e
finalmente a via férrea chegou ao Ipu, em 1894. Sua Estação foi inaugurada em
10 de outubro do mesmo ano.
Mais tarde os trilhos
chegaram, ainda, a Ipueiras, Charito, Nova Russas, Sucesso, Crateús. Em
seguida, seria a vez do Piauí.
Os
defensores da construção das estradas de ferro no Ceará, no final do século
XIX, sobretudo a EFS, lançaram ampla mão do discurso da seca com o objetivo de
sensibilizar o governo federal. O discurso da seca para angariar recursos para
as áreas atingidas pela estiagem se torna uma prática tão utilizada que na
maioria das vezes sua veiculação passa a ser natural. Desde a seca de 1877-1879
as elites da região “nordeste” descobrem a grande arma ao alcance de suas mãos
e dela passa a se utilizar constantemente. Foi utilizando esse discurso que as
autoridades e as elites locais conseguiram trazer um volume considerável de
recursos para a região. Era uma forma de contrabalançar uma posição cada vez
mais subalterna no contexto nacional. O discurso da seca e os recursos dele
advindos permitem à grande parte das elites da área atingida pelo flagelo,
manter e mesmo reafirmar sua posição de dominação, contrabalançado a perda de
espaços ao nível nacional.
Autoridades
influentes na cena política imperial tiveram papel destacado, lutando e
defendendo a construção de uma ferrovia que ligasse o porto de Camocim à cidade
de Sobral. São os casos dos sobralenses, Dr. José Júlio de Albuquerque,
Presidente da província na época da liberação da construção da EFS (1878-1880)
e influente junto aos ministros imperiais, e do Dr. João Ernesto Viriato de
Medeiros, também sobralense e Deputado Geral pela segunda vez no Império
(1867-1868/1878-1881).
A ferrovia contribuiu para o
desenvolvimento de toda a região norte, promovendo o crescimento do comércio,
da produção agrícola e permitindo a ligação direta da região com as demais
províncias do Brasil e com a Europa. Muitas famílias fizeram fortuna.
As cidades de Camocim, que
logo desmembrou-se de Granja, Granja, Sobral e Ipu, cresceram muito com a
chegada da ferrovia. A estrada de ferro era o sonho de muitos homens abastados
e influentes da região norte da província, sobretudo de Sobral, a cidade mais
importante da região. A seca e seu flagelo acabaram ajudando. Permitira a
construção do discurso do flagelo para legitimar sua construção. A seca foi
usada como justificativa para as grandes obras na região que, não obstante,
contribuíram para aumentar fortunas, não resolvendo, mas apenas minorado, a
miséria da população pobre, momentaneamente.
Parabéns pelo texto e pela crítica.
ResponderExcluirObrigado.
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