A charge que ilustra esta
coluna, desenhada pelo Arcanjo para a edição de junho de 2008 do jornal Ipu Grande, era não apenas uma denúncia,
mas também uma crítica ferrenha à maneira de fazer política na cidade de Ipu,
naquele momento. Ao contrário do que se possa imaginar, os ratos não
representavam apenas os legisladores, os edis, eleitos para fiscalizar o
executivo e propor leis em benefício da maioria da população, mas representavam,
também, uma boa parcela do “povo”.
Há,
pelo menos, dois ataques: um endereçado aos vereadores, em sua maioria, e,
outro, a parte significativa da população ipuense. No primeiro caso, a
indignação resultava do fato de os edis
pouco se importarem com o futuro da nossa cidade e o bem estar de seus
eleitores, negociando apoio em troca de benesses, apoiando os líderes em troca
de dinheiro ou outras vantagens, empregos para seus correligionários em cargos
públicos e, quem sabe, algo mais. No segundo caso, a revolta era endereçada a
um povo que, em sua “consciência política”, lutava em defesa de suas
lideranças, sempre fiéis a eles, mantidos com migalhas, promessas, tijolos,
consultas médicas arranjadas, cimento, dentadura e sabe lá o que mais!
Ratos?
A
crítica, em resumo, recaia sobre o sistema que se alimentava da miséria, da
exploração de um povo que pensava que se posicionar criticamente, atacando os
seus adversários, era ter consciência política. De um lado, um exército de analfabetos
políticos, cuja política levada a cabo pelas lideranças era a “arte de
mantê-los pedintes e miseráveis”, sempre com mãos estendidas, e de outro, um
“povo” sempre pronto a defender, com “armas nas mãos”, aqueles que lhes davam
migalhas em troca do voto, e cuja política, consciente ou inconsciente, era
manter dois círculos viciosos: um da riqueza, apropriadas por poucos
“espertinhos”, e outro da pobreza, mesmo da miséria.
“Ratos”?
O
ataque maior, creio, é endereçado contra um povo caolho, míope, mesmo, cego,
que sofre nas filas dos hospitais, nos bancos escolares, com as ruas da cidade
esburacadas, praças abandonadas, com o péssimo atendimento dos órgãos públicos,
sem oportunidades de empregos, mas que não perde a oportunidade de manter um
sistema político viciado, negociando a única arma capaz de mudar alguma coisa:
seu voto!
Ratos?
Que
democracia é essa, em que o cidadão espera a oportunidade de ganhar algo em
troca de sua consciência, vendida como um saco de batatas?
Ratos?
Há,
finalmente, uma mensagem implícita na charge acima: “cada povo merece o governo
que tem!”
Mudou
alguma coisa?
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