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A
corrupção atinge mais da metade das prefeituras do Ceará, segundo demonstrou
recentemente a promotoria de justiça. Todas são suspeitas de envolvimento com
empresas fraudulentas. No entanto, as investigações levadas a cabo pela
promotoria e que vêm comprovando fraudes com o dinheiro público é apenas a
ponta de um imenso iceberg.
A
corrupção nas prefeituras dos municípios do Ceará está generalizada, disse o
promotor Luiz Alcântara, integrante da Procuradoria dos Crimes Contra a
Administração Pública (Procap). O que era para ser exceção se tornou a regra.
As
fraudes mais comuns são a contratação irregular de servidores, concessão de
pagamentos a funcionários fantasmas, ausência de licitações, licitações com
indícios de favorecimentos, contratação de empresas fantasmas, desvios de
dinheiro, obras superfaturadas, prestação de contras de obras não realizadas,
dentre tantas outras.
A
corrupção hoje não é maior do que no passado, creio. O poder da imprensa, em
fiscalizar e denunciar a corrupção, a criação de mecanismos de controle mais
eficazes no uso dos recursos públicos, têm contribuído para dar grande
visibilidade aos atos de desmonte das prefeituras.
Hoje
é imoral e ilegal a posse de bens públicos em benefício de particulares, mas
muito aceita ainda por grande parcela da população, que pouco se importa se os gestores
estão administrando bem o erário. As raízes disso são históricas e remontam a
nossa formação cultural.
A
nossa colonização se encarregou de legar-nos uma cultura patrimonialista, de
base ibérica, quando o público e o privado se confundem, como bem demonstram os
estudos de Raimundo Faoro (Os donos do
Poder), Sergio Buarque de Holanda (Raízes
do Brasil) e Gilberto Freyre (Casa
Grande & Senzala).
Além
do patrimonialismo, os portugueses nos legaram uma cultura paternalista
(troca de favores) e patriarcal (chefe que manda e comanda como a figura do
pai, em relação à família, em sociedades tradicionais), cuja herança imprime em
nosso fazer político particularidades interessantes.
A
corrupção generalizada explica por que a maioria das cidades cearenses tem mais
da metade da sua população vivendo abaixo da linha de pobreza, numa situação
miserável, como é o caso de Ipu e como demonstrou recente pesquisa (Mapa da
Pobreza e Desigualdade). Vivemos duas realidades contraditórias: uma de riqueza
desmedida e outra de pobreza revoltante. No primeiro caso, os recursos que
deveriam minorar a miséria, desviados dos cofres públicos, têm feito, desde o
início, a felicidade de pequenos grupos. No segundo caso, a própria miséria da
maior parte da população se mostrou uma estratégia eficaz para manter os
círculos viciosos: a riqueza como resultado da miséria!
Os
ladrões posam de inocentes!
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