Capa da dissertação de mestrado de Jorge Luiz Ferreira Lima. Cópia do autor. |
Letrado é o
título dessa seção que inauguro hoje. Periodicamente apresentarei ao leitor indicações
de boas leituras. Começo com um trabalho sobre a cidade de Ipu. Trata-se da
dissertação de mestrado do historiador Jorge Luiz Ferreira Lima, defendida
recentemente. Caso tenha interesse de lê-la, é só fazer o download, no site da
UFC, no programa de pós-graduação em História.
Jorge
Luiz Ferreira Lima. Entre caminhos e lugares do livro: gabinetes de leitura na
região norte do Ceará (1877-1919).
Entre
caminhos e lugares do livro: gabinetes de leitura na região norte do Ceará
(1877-1919) é resultado da dissertação de Mestrado
de Jorge Luiz Ferreira Lima, apresentada ao Programa de mestrado em história da
Universidade Federal do Ceará. Nela o autor busca apresentar a trajetória dos
gabinetes de leitura na região norte do Ceará (Sobral, Granja, Ipu, Camocim e
Viçosa) entre fins do século XIX e as primeiras décadas do século XX, com base
na consulta a jornais, livros, memórias e entrevistas.
Com base nos acervos de
duas dessas instituições (Ipu e Camocim), dos quais teve acesso, Jorge Luiz
Ferreira Lima busca discutir a constituição de uma rede de comunicação, que
teria se estabelecido na região norte, em torno da circulação de livros. Para
chegar a esta conclusão, percorre os locais de produção e publicação, passando
pelas livrarias localizadas nos principais centros distribuidores do comércio
livreiro nacional até chegar aos leitores e aos acervos dos gabinetes de
leitura.
A tese central do
autor, portanto, é de que teria se estabelecido na então região norte do Ceará,
entre 1877 e 1919, uma microrrede de comunicação em torno da circulação do
livro. Para chegar a essa conclusão, utiliza como fontes primárias os próprios
livros pertencentes aos acervos de dois gabinetes, atentando para as pequenas
pistas e indícios presentes nos próprios livros, como por exemplo, carimbos de
livrarias ou de firmas distribuidoras, dedicatórias, etc., e para os indícios
presentes na imprensa da época.
Dois caminhos teóricos
e metodológicos se apresentaram ao autor. O primeiro, aquele seguindo por Roger
Chartier em sua história da leitura. Para este, a história da leitura é
encarada como prática social “que ajuda a construir representações da
realidade, reconstituindo a experiência do leitor com o texto” e que levam à
construção de sentidos, às maneiras como o leitor se apropria do texto. Assim,
o livro é encarado como “texto” que permite questionar a experiência do leitor
ao colocar-se em contato com eles. O segundo caminho, é aquele seguido por
Robert Darnton que pensa o livro, em um de seus trabalhos, com base em sua
materialidade. Darnton em “O que é a história do livro?” busca mapear o
circuito percorrido por livros “proibidos” na França, desde sua impressão fora
de suas fronteiras até chegar a seus leitores finais, tendo como preocupação
central a identificação dos principais sujeitos envolvidos na produção,
transporte, comércio e distribuição dos livros, visualizando a existência de
uma rede de comunicação.
Jorge Luiz Ferreira
Lima descarta a possibilidade de tratar a história do livro com base nos
pressupostos apresentados por Chartier por considerar problemático reconstituir
as maneiras como os leitores se apropriam do texto, com as fontes que possui. O
caminho metodológico apresentado por Darnton se mostra mais interessante e
profícuo ao autor. Desta forma, passa a encarar o livro não como texto, mas
como objeto, em sua materialidade, como faz Darnton, e cuja preocupação central
é investigar os caminhos percorridos pelo livro deste a sua produção, até
chegar ao leitor final, aquele dos gabinetes de leitura, evidenciando a
existência, na região norte do Ceará, de uma microrrede de comunicação do
material impresso que envolvia o seu transporte, comercialização, doação e a
sua ligação com a imprensa.
Boa leitura.
Boa leitura.
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