Três
coisas, pelo menos, considero reprováveis em alguns blogs de “variedades”, que
têm se proliferado ultimamente entre nós – o que não significa dizer que os
condeno de todo. Em primeiro lugar, a exposição inconsequente, a meu ver, de
cenas violentas chocantes (de mortos, acidentes, cadáveres em putrefação, etc).
Creio, isso cria uma cultura que valoriza o espetáculo, o sensacionalismo a
ponto de não “nos” sentimos mais chocados com o absurdo, o chocante, o fora do
comum. Em segundo lugar, a disseminação de futilidades que vão desde noticiar
os absurdos que ocorrem nas péssimas telenovelas (que me recuso a assistir, mas
respeito quem assiste e acho que, em certo ponto, têm uma função social
importante), como se fossem coisas das mais importantes, de vídeos de pornografia,
depilação de celebridades, até traições (ou fofocas) de namoradas de jogadores
famosos. Por último, a determinação de transformar tudo em notícia: um arroto de uma celebridade em local
público, a depilação do púbis de uma modelo, o tropeço de um deputado, a ida da
presidenta à praia, usando maiô. Neste último caso, a maioria das notícias é
copiada e se traduz em cópia de outras cópias de péssima qualidade.
Contraditoriamente,
a exposição da violência, o sensacionalismo e a disseminação de futilidades dão
ibope. Funcionam bem. Se o objetivo é o aumento do número de acessos, a
estratégia é boa, embora condenável do meu ponto de vista.
Entretanto,
de um lado, a mídia passa a ser refém do mercado, pois para atrair
investimentos noticia tudo, comprometendo a sua qualidade, criando uma rede de
leitores de futilidades. De outro lado, perde autonomia, sendo, na maioria das
vezes, cooptada por grupos que estão no poder e que, frequentemente, pagam caro para
anunciar, nestes locais, suas ações e projetos, com o
dinheiro do contribuinte, claro.
Na
pior das hipóteses, cria-se uma mídia “alternativa” totalmente partidária, que
reproduz as disputas, interesses e embates no âmbito do poder. Passa-se a ter,
de um lado, uma imprensa defensora do grupo que está no poder (eles nem
escondem isso) e, de outro, uma mídia ligada aos grupos opositores. Em última
instância, para mim, perdem toda a credibilidade, funcionando como mídias manipuladoras
de notícias, pretensamente neutras, opiniões e das consciências de uma
população sedenta pela polêmica.
Faço
minhas as palavras de um personagem do romance de Marcel Proust, em sua obra Em busca do tempo perdido (vol. 1), ao
se referir à imprensa de sua época, dizendo que o que é censurável nos jornais “é
fazer-nos prestar atenção todos os dias a coisas insignificantes ao passo que
lemos três ou quatro vezes na vida os livros em que há coisas essenciais”.
O que eu preciso fazer pra escrever assim, tão bem??
ResponderExcluirEm primeiro lugar, agradeço pelo elogio que me fez em forma de pergunta. Mas, não sei se, de fato, escrevo tão bem assim. Digo, não obstante, que faço esforços para melhorar a minha escrita. Creio que ler bons livros é um dos caminhos dos mais seguros para se escrever bem. Leia bons livros, portanto!
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