Vista Parcial da Cidade (1940). Acervo: prof. Mello. |
A importância da ferrovia para a cidade
de Ipu não reside apenas no fato de ter favorecido o aumento da produção dos
artigos produzidos localmente, mas também de ter transformado esta urbs num ponto de atração de toda a
produção das regiões em sua volta, pela facilidade de comunicação com outras
praças, e que antes de 1894 não encontrava facilidades de expansão. Já em 1884,
Antônio Bezerra de Meneses[1],
em sua viagem pelo norte da província, se admirou com tamanha riqueza natural e
da produção das cidades e povoados da serra da Ibiapaba, que encontrava limites
de expansão na falta de transportes e comunicações. Não deixou de anotar que logo que os trilhos
chegassem à cidade, com sua localização privilegiada, a dois quilômetros da
serra, se tornaria a urbs mais
importante e rica do norte cearense, sobrepujando Sobral. Ao passar por esta
última cidade anota: “não tenho a intenção de ofuscar o brilho de Sobral, cuja
prosperidade é visível, mas esta estacionará logo que chegue a estrada ao Ipu”.
“Os produtos da Ibiapaba não se perderão como até hoje à falta de consumo”[2].
Igualmente, a ferrovia teria dinamizado
a produção de açúcar e aguardente, bem como outros produtos agropecuários. José
Bernardo Teixeira, por exemplo, que em meados do século XIX montou um engenho
de produção de açúcar, rapadura e aguardente, por tração animal e mais tarde
por tração a vapor, usando as águas do riacho Ipuçaba, passou a exportar para
outras praças o açúcar produzido na “Lagôa do Teixeira”, como ficou conhecido o
seu engenho. Segundo o relato do historiador Francisco das Chagas Paz, entre
fins do século XIX e início do século XX a “Lagôa do Teixeira”
Fabricava aguardente, rapadura e o famoso açúcar turbinado
que era vendido para a Capital, até mesmo para o estado do Pará, embarcando
aqui, na Estrada de Ferro recentemente inaugurada, levando-o ao porto de
Camocim. Dalí por via marítima chegava às praças onde era vendido[3].
Segundo ainda o autor da citação acima,
os invernos irregulares dos primeiros anos do século XX, associado às dívidas
contraídas pela família Teixeira, levou-o à falência. A “Lagoa dos Teixeiras”
foi vendida para a Firma Boris Frères,
com filial em Fortaleza, que fazia o comércio de importação e exportação entre
o Ceará e a França[4] e já
comerciava com o norte do Ceará mesmo antes da EFS[5],
nutria projeto de investir mais pesadamente na região para explorá-la
economicamente. Com os invernos bons após 1909, a propriedade foi comprada pelo
Cel. José Lourenço de Araújo, que restaurou o maquinismo e retomou a produção
de açúcar. No entanto, se notabilizou como grande exportador de algodão, como
vimos.
Continua...
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[1]
Antônio Bezerra de Meneses (1841-1921). Jornalista, poeta, historiador e
naturalista. Em 1884, participou de uma comissão a Região Norte do Ceará,
organizada pelo governo da província, com o objetivo de colher informações
históricas, geográficas e de sua natureza. Profundo conhecedor e estudioso das
ciências naturais, historiador da primeira geração do Instituo Histórico do
Ceará, sendo um de seus fundadores em 1887, não se limitou apenas a colher
informações estatísticas dos locais por onde passava, deixando suas impressões
no livro citado, Notas de Viagem,
publicado inicialmente em folhetim, para o jornal Constituição. Idem.
[2] BEZERRA, Antônio. Notas de Viagem. Op. cit., p. 319.
[3]
Ipu em Jornal. Ipu, p. 1, 6 e 7, Set.
1959.
[4]
TAKEYA, Denise Monteiro. Europa, França e
Ceará: origens do capital estrangeiro no Brasil. Natal: UFRN. Ed.
Universitária, 1995.
[5]
BEZERRA, Antônio. Notas de Viagem. Op.
cit., p. 321.
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