Gazeta do Sertão (1913). Capa. Nº 1. Acervo de Raimundo Alves de Araújo |
Imprensa e cidade
O surgimento de jornais, em Ipu, é
também resultado da expressão de agentes sociais com desejos pelo novo e em
busca de cimentar projetos diversos. A própria imprensa, como novidade, era
entendida como atributo de um povo letrado e, portanto, progressista, moderno.
No dizer de Eusébio de Sousa, juiz da
Comarca de Ipu entre 1913 e 1918, a imprensa é “a bella manifestação do
progresso de um povo”[1].
Devia ter ela um papel fundamental para o desenvolvimento do caráter de uma
população, na medida em que uma de suas funções era instruir. Devia ter também,
uma feição intelectual e cunho artístico, algo que faltava, por exemplo,
segundo ele, ao jornalismo desenvolvido pela capital do Ceará até 1918, momento
em que escrevia, representado pelos jornais Folha
do Povo, Diário do Estado, Correio do Ceará, Jornal Pequeno e o Imparcial[2].
A imprensa, para o magistrado, devia
ter uma função pedagógica, jogar um papel importante para a formação moral e do
“caráter” de um povo. Devia esclarecer, no sentido de instruir, ensinar, de
mostrar o melhor caminho a ser perseguido pela sociedade e atacar o que
considerava errado, do ponto de vista de “nossa” (sua) formação ética e moral.
Devia ela, em última instância, moldar os indivíduos, ser “a escola que
modifica o nosso caracter e nos habilita a acompanhar questões de alta
importância”, ter uma ação moralizadora e combativa das paixões partidárias, um
mal a ser extirpado da folha impressa, mas que a assolava. A imprensa, em
Fortaleza, naquele momento, “ao que parece não tem querido ella comprehender o
verdadeiro papel que lhe assiste, desvirtuando quase sempre sua acção
moralizadora para o terreno das paixões partidárias”[3].
O jornalismo, pensado desta forma,
teria um papel importante no caminho de “apontar os nossos defeitos, combater o
erro, defender o que necessitava de auxilio, enfim propugnar pelo bem,
abandonando de vez as paixões, os falsos expedientes até então postos em
pratica”[4].
Esses vieses, de fato, aparecem na
folha impressa em Ipu nas primeiras décadas do século XX, sobretudo em seus
órgãos mais bem elaborados e importantes naquele momento: o Jornal Gazeta do Sertão (1913) e o Correio do Norte (1918-1924). Ambos
conheceram a pena ávida de Eusébio de Sousa e onde escreviam os intelectuais do
círculo de sua amizade. Do segundo periódico, o juiz imprimiu diretamente as
suas diretrizes ao fundá-lo e ser o seu primeiro diretor.
Continua...
Continua...
[1]
SOUSA, Eusébio. Um pouco de Historia. Op. cit., p. 226.
[2]
SOUSA, Eusébio. A Imprensa do Ceará em 1918. In: Revista do Instituto do Ceará. Fortaleza. Tomo. XXXIII, Ano XXXIII,
1919, p. 22-107, p. 25. O autor negligencia os pequenos jornais, com
características de pasquim.
[3]
Id. Ibidem, p. 28.
[4]
Id. Ibidem, p. 29.
0 comentários:
Postar um comentário
Deixe aqui seu comentário, opinião e sugestões. Um forte abraço!