O “Jornalismo Matuto"[1]
Correio do Norte. Fonte: Biblioteca Menezes Pimentel |
Esta arte só teria começado a se desenvolver
na Terra de Iracema, segundo o mesmo
autor, quando tivera início a “formação mental dos ipuenses”. Ele se refere às
últimas décadas do século XIX, quando, por influência do Padre Francisco
Correia de Carvalho e Silva, a Vila Nova do Ipu Grande, elevada a condição de
cidade em 1885, se viu livre da sanha sanguinária dos destemidos Mourões -
família influente na freguesia da Serra dos Cocos, da qual a Vila Nova do Ipu
Grande fazia parte, e com o uso da força e das armas aterrorizou a região - e
do pronto estabelecimento da lei[2].
Se
se der crédito à análise feita pelo magistrado nos primórdios do século XX,
teria sido, portanto, nos últimos anos do século XIX que a “vida intellectual
do Ipú começou a movimentar-se”[3].
Umas de suas manifestações teria sido o desenvolvimento da imprensa local.
De
fato, as primeiras folhas vieram a lume naquele momento. No início, eram
pequenos jornais, todos manuscritos, em função de não haver ainda um prelo na
cidade. As precárias comunicações com outras localidades, sempre relativamente
muito distantes, pela falta de meios de transportes seguros, rápidos e
regulares, não favorecia o uso do prelo, existente em algumas cidades, como é o
caso de Sobral. Somente após a chegada da ferrovia e o surgimento das
facilidades das comunicações, sua maior velocidade e barateamento dos
transportes, foi possível se contratar serviços gráficos e tipográficos de
estabelecimentos para esse fim, existentes em outras cidades.
No
entanto, os primeiros jornais manuscritos, todos de “orientação literária,
social e humorística” saíam ainda no último quartel do século XIX. A primazia
coube ao ensaio A Lyra, já em 1886. Depois deles vieram
outros, como O Povir, O Sol, A Brisa, O Espelho, Beija-Flor e O Paladino, todos redatoriados, principalmente, por Júlio Cícero
Monteiro, literato e jornalista, Thomaz de Aquino Correia e Sá, farmacêutico e
estudioso das letras, e Francisco Ximenes de Aragão, “então acadêmico”[4].
Segundo
José Oswaldo de Araújo, “a cidade do Ipu não madrugou na publicação de jornais
em relação ao interior do Ceará” e foi a 12ª localidade a editar um periódico
impresso. Trata-se do jornal O Ipuense, um
semanário fundado e dirigido por Júlio Cícero Monteiro[5],
cujo número de estreia data do dia 24 de outubro de 1890 e teve 20 edições
consecutivas. Foi “este, o primeiro jornal em letra de fôrma da terra de
Iracema”[6].
Este hebdomandário era impresso na tipografia
do jornal A Ordem, de Sobral.
Em seguida, os irmãos Teles e Jovelino de Sousa,
diretores do educandário José de Alencar, o mais importante colégio particular
local até aquela data, editaram e fizeram circular o jornalzinho Cidade de Ipu, “jornal bem feito, com
excelente parte editorial e literária”. O seu primeiro número data de 18 de
fevereiro de 1904. Teve vinte edições e encerrou suas atividades em 15 de
outubro do mesmo ano. Marcaram suas
páginas os escritos do Dr. Félix Cândido de Sousa Carvalho, juiz de direito da
Comarca naquele momento e futuro Desembargador do Tribunal da Relação do Estado[7],
do poeta Liberato Filho, Manoel Ribeiro de Miranda, Alba Valdez, Júlio Cícero
Monteiro, Dr. José Mendes de Vasconcelos, Luis Porfírio e do professor João da
Mata Cavalcante, dentre outros[8].
Continua...
[1]
Id. Ibidem. É assim que Eusébio de Sousa se refere à imprensa do interior do
Ceará no início do século XX.
[2]
Sobre os Mourões ver: MACÊDO, Nertan. O
bacamarte dos mourões. Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, 1966.
[3]
SOUSA, Eusébio. Um pouco de Historia. Op. cit., p. 222.
[4] ARAÚJO, Oswaldo. Imprensa de
Ipu. In: Revista do Instituto do Ceará.
Fortaleza. Tomo LXXX, Ano LXXX, 1966, p. 162-165, p. 162. Segundo Eusébio de
Sousa, a imprensa teve início com o jornal O
Sol, que tinha como redatores Tomaz Correia e Felix Candido. Segue-se com O Ipuense, “de Thomaz Correia, Felix
Candido e Manoel Marinho, seguindo-se-lhe A
Brisa, ainda da responsabilidade de Thomaz Correia, Felix Candido e José
Candido; O Espelho, de Eduardo
Saboya, actualmente deputado ao Congresso Federal, jornalzinho que durou mais
de um anno; e o Paladino, órgão da
sociedade litteraria PALANDINOS DO PROGRESSO, de Julio Cicero Monteiro, Felix
Porfirio de Souza, Herculano José Rodrigues e Manoel Coêlho”. SOUSA, Eusébio.
Para a Historia. Op. cit., p. 227.
[5]
Júlio Cícero Monteiro se mudaria para a cidade de Camocim, mantendo, no
entanto, intenso diálogo com os intelectuais ipuenses daquele período,
inclusive escrevendo periodicamente para o Correio
do Norte. Nunca deixou de retornar à cidade de Ipu. Em Camocim, fundou o Grêmio Literário e foi
diretor-proprietário do Jornal A Razão (1928-1931), um semanário. Reconhecido como um
intelectual brilhante, escrevia para diversos jornais que circularam na região
norte.
[6]
ARAÚJO, Oswaldo. Imprensa de Ipu. Op. cit., p. 162.
[7]
SOUSA, Eusébio. Um pouco de Historia. Op. cit., p. 229.
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