Depois da Gazeta, o jornal mais importante
publicado em Ipu foi o Correio do Norte,
que passou a circular a partir de 1º de janeiro de 1918, com o seu número de
estreia. O seu nascimento foi anunciado ainda em 1917, quando Abílio Martins
publicou um jornal datilografado fazendo a propaganda humorística daquele
periódico, que logo nasceria. A grande novidade foi a compra em Sobral, pelos
redatores do Correio, de uma oficina
tipográfica para imprimir, inicialmente, a revista O Campo[1]
e, depois, também aquele jornal.
Trabalhavam
em suas oficinas gráficas Francisco das Chagas Paz (gerente-comercial), mais
tarde também tipógrafo, Francisco Pilcomar Campos e Gessy França, contratados
em Sobral e que exerciam as funções de tipógrafos e compositores. “Havia ainda
dois meninos, arrebatadores para a aprendizagem no manuseio dos tipos:
Francisco Mariano Mesquita (Peba) e José Oliveira Pombo (Zé Pombo)”. Em
seguida, este último e João Mozart da Silva se tornariam, também, tipógrafos
daquele estabelecimento. Fundaram e dirigiram inicialmente o jornal, Eusébio de
Sousa e Abílio Martins. Estes foram os seus diretores no primeiro ano de
circulação daquele periódico. Mais tarde, quando Eusébio de Sousa foi
transferido de Ipu para assumir o cargo de juiz em outra cidade e Abílio
Martins foi morar em Fortaleza, onde, em 1920 assumiu o cargo de chefe de
polícia do Estado, o órgão passou a ser dirigido por Thomaz Correia, um de seus
redatores desde 1º de janeiro de 1918[2]. Foram seus redatores,
ainda, o médico, futuro prefeito de Ipu, Francisco das Chagas Pinto, Oswaldo
Araújo, Manuel Dias Martins, Leonard Martin e João Bessa Guimarães.
Organizando-se como um misto de empresa com uma produção
artesanal, a Typographia d’O Campo,
como foi batizada, trouxe para suas oficinas gráficas categorias profissionais,
casos dos tipógrafos e compositores. Este fato revela um processo em que cada
vez mais a mecanização da impressão estava se impondo. Embora não empregasse
nos trabalhos técnicos do maquinário não mais do que 7 pessoas, já havia, no
entanto, uma certa divisão e especialização do trabalho. O resultado foi um
processo que permitia transpor para as páginas do jornal uma qualidade gráfica
evidente, uma grande novidade em se tratando de um trabalho totalmente
produzido em âmbito local. Com um novo maquinário, a tecnologia disponível
permitia o uso de imagens e gravuras entre os textos, um avanço em relação ao
jornal Gazeta do Sertão, no entanto,
não tão explorado, talvez por encarecer os custos.
Igualmente
o novo processo mecânico, ao que tudo indica, com a tecnologia da linotipo,
permitia uma produção acelerada do processo de impressão e o aumento da
tiragem, bem como o barateamento dos custos. É isso que explica, em parte, o
fato do Correio do Norte sair
rigorosamente toda semana, sem nenhum imprevisto.
Embora
o Correio fosse produzido em oficinas
próprias e contasse com uma tecnologia mais ou menos avançada para a época,
sobretudo para um pequeno burgo, isso não é suficiente para se afirmar que, a
partir de então, a imprensa local se organizava como uma empresa capitalista,
característica apenas da chamada grande imprensa, que surgia nos grandes
centros urbanos na virada do século XIX para o século XX, segundo propõe a
análise feita por Nelson Werneck Sodré[3].
A
tipografia foi instalada provisoriamente no pátio de uma casa que pertencia a
Oswaldo Araújo. Dois anos depois, passou a ter sede própria em um prédio na
Praça São Sebastião, local que foi a residência do Padre Feitosa, quando pároco
da cidade. Mais tarde, no mesmo prédio, foi instalada a sede do Gabinete de Leitura.
A Typographia d’O
Campo não imprimia apenas a revista mensal O Campo e jornais, mas
também cartões de visita, envelopes,
faturas, memorandos, folhetos, convites e outros pequenos panfletos. Tais
serviços eram anunciados nas páginas do jornal. Em um anúncio de um quarto de
página, em letras grandes, os redatores ofereciam os serviços tipográficos
disponíveis:
LEIAM
NOTAS PROMISSORIAS
cartões phantasias, de visitas e participações, cartas, Facturas, Enveloppes,
Memorandus e todo qualquer serviço Typographico faz-se na TYPOGRAPHIA D’O
CAMPO.[4]
[1]
SOUSA, Eusébio. A Imprensa do Ceará em 1918. Op. cit. Em nossa pesquisa não
encontramos nenhum exemplar da revista mensal O Campo, que dá nome à tipografia.
[2]
Segundo o Historiador Cearense Barão de Studart, Eusébio de Sousa foi o
fundador e redator (diretor) do Correio
do Norte, substituindo-o, logo depois, Abílio Martins: Sobre o periódico
diz “O 1º nº é de 1 de janeiro. Fundador e redactor o Dr. Eusebio de Souza.
Retirando-se para Fortaleza afim de tomar parte nos trabalho da commissão de
Codificação das leis do estado, substituindo-o como redactor o Dr. Abilio
Martins. Terminado o 1º anno de existência do “Correio do Norte”, assumiu a
redacção o Cel. Th. Correa com a collaboração dos Drs. Abilio Martins, Chagas
Pinto, Cel. Manoel Dias e João Bessa”. STUDART, Barão. Jornaes Publicados no
Ceará em 1918. In: Revista do Instituto
do Ceará. Fortaleza. Fortaleza. Tomo. XXXIII, Ano XXXIII, 1919, p. 249-251,
p. 249.
[3]
SODRÉ, Nelson Werneck. A imprensa no Brasil.
Op. cit.
[4]
Correio do Norte. Ipu, p. 4, 19 fev.
1920.
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