Na mesma semana em que se
falou muito de coveiro, a saída de Sérgio Moro do Ministério da Justiça e
Segurança Pública pode representar o início do enterro do governo de Jair
Bolsonaro, pelo menos é o que apontam algumas análises políticas recentes
feitas por jornalistas e cientistas políticos. Se isso se confirmar, estaremos diante
de uma fina ironia do “destino” ou da política.
Muitos fatores contribuíram para
a vitória de Bolsonaro na última eleição presidencial. Uma sempre apontada foi
a atuação do então juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato, ao condenar o líder
nas pesquisas eleitorais para a presidência da República, naquela ocasião, Luiz
Inácio Lula da Silva, apesar das fragilidades, apontadas por inúmeros juristas
renomados, quanto a materialidade das “provas” e das supostas irregularidades
cometidas no processo.
A ironia está exatamente aí: a
ação daquele que foi fundamental para a vitória do atual presidente pode ser
igualmente o responsável pela sua saída. Sérgio Moro teria agido como Coveiro-mor.
Por que a situação é tão grave
e pode levar ao impedimento do presidente? A questão não está apenas em uma troca
de nomes de um ministério, apesar de Sérgio Moro ter sido o ministro mais bem
avaliado no primeiro ano da gestão presidencial, mas pelas acusações graves que
levantou. Em uma delas, acusou o presidente de interferir politicamente mais de
uma vez na Polícia Federal, uma instituição de Estado e não de governo, para
barrar investigações contra aliados e parentes.
Para piorar a situação, a acusação
se deu na semana em que corriam notícias seguras de que a Polícia Federal havia
supostamente descoberto que um de seus filhos estava na origem de notícias
falsas e ataques ao Supremo Tribunal Federal, de ser operador do chamado “Gabinete
do Ódio” e o mentor na convocação de manifestações públicas a favor do
presidente, dias antes, que atacaram as instituições democráticas, pedindo intervenção
militar e a volta do famigerado AI-5.
A situação se agrava ainda
mais porque o presidente participou das manifestações e discursou em palanque
improvisado, em um claro afrontamento às instituições democráticas, colocando
em risco o Estado de Direito, o que gerou, na ocasião, a animosidade e
declarações contundentes de políticos, do STF, da OAB e do Legislativo Federal,
por exemplo, contra o ato, levando a Procuradoria Geral da República a solicitar ao
STF abertura de inquerido para apurar as manifestações. Neste caso e nas
acusações feitas por Sérgio Moro, o presidente teria cometido inúmeros crimes e
não apenas aquele de responsabilidade, passível, portanto, de impedimento,
segundo a Constituição Federal.
Pela experiência de Sérgio Moro
e o fato de ter sido juiz federal, deve não apenas saber mais do que ninguém que
não se pode fazer acusações, sobretudo contra um chefe da nação, infundadas, mas
ter provas, no mínimo, de todos as acusações, o que leva-nos a pensar que a
situação pode se agravar ainda mais.
Aquele que contribuiu para
elevar o presidente ao Palácio do Planalto e que, como suposta recompensa, foi
igualmente alçado a um de seus principais ministérios, com a promessa de ir ao
STF, afrontado, parece ter sido o mesmo que, em momento de Pandemia, com uma pá
na mão, deu início a abertura da cova política do chefe da nação.
O país, que desce a ladeira, se
depara agora com três grandes crises: uma econômica, outra de saúde pública e
uma terceira, política. Espero que o Brasil não caia, também, numa das covas
abertas pelos coveiros da nação.
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