sexta-feira, 22 de maio de 2020

O vermelho e o negro. Parte I




Fazia tempo que pretendia ler este grande romance (2013). Ele é citado pelos críticos como um dos grandes clássicos da literatura internacional, leitura obrigatória para os amantes da boa leitura. De fato, é um livro fenomenal.
O vermelho e o negro, de Stendhal, tem como personagem central Julien Sorel, filho de um carpinteiro, movido por uma grande ambição: angariar posição numa França que, apesar das transformações profundas advindas com a Revolução Francesa, ainda mantinha uma sociedade nobiliárquica, orgulhosa de sua posição nobre e de linhagem.
O cenário onde se desenvolve o enredo é, portanto, a França do início do século XIX, logo após a queda de napoleão, ocorrida em 1815, e a restauração da monarquia. De um lado, valores burgueses estavam sendo estabelecidos e, de outro, os valores aristocráticos ainda eram fortes, mas em plena decadência. Pode-se dizer que aquele era um momento de transição onde havia um embate entre valores nascentes, capitalistas, e os valores nobiliárquicos, da nobreza, ainda fortes. É o momento do surgimento de novas relações sociais complexas, tão bem descritas no romance.
O romance explora e descreve paixões avassaladores, como aquelas vividas por Julien Sorel e duas mulheres de posição social reconhecidas, romances impossíveis. Sorel, ambicioso, orgulhosa e com certo desprezo para com aqueles de posição social, parece ser o personagem criado por Stendhal para colocar em relevo preconceitos sociais, homens orgulhosos e não menos desprezíveis.
Sorel parece ser uma espécie de anti-herói, com defeitos, mas também com qualidades que às vezes faltavam a muitos dos outros personagens. Ele e suas amantes vivem conflitos psicológicos intensos. Ele por sua inferioridade social e pela disposição de enfrentar as convenções sociais. Suas amantes, por terem de abrir mão de seus nomes, da linhagem, do seu orgulho, e a disposição quase cega por estabelecer um combate contra os valores de suas “castas”, em nome de um amor avassalador.
Embora de condição social inferior, o que fazia toda a diferença naquela sociedade das primeiras décadas do século XIX, Julien Sorel tinha uma inteligência diferenciada e uma memória excepcional, o que o levava a decorar, em latim, a Bíblia, gerando, entre aqueles que lhe davam ouvidos, uma admiração profunda por ele. Estudava teologia e desprezava qualquer trabalho braçal, o que desagradava seu pai e irmãos, que, também por isso, os desprezavam.
Algumas das qualidades do herói do romance eram a extrema beleza e o poder de sedução, usando-as a todo custo para conseguir o que almejava. Sem linhagem ou berço, sabia que sua ascensão social só poderia ser conseguida por dois caminhos: o militar ou a batina. O primeiro representa o vermelho (uniforme), o segundo o negro (a batina). Aproveita bem as oportunidades que se apresentam. Protegido do cura Chèlan, é convidado pelo senhor de Rênal, prefeito de Verrière, e homem de posição e poses, para ser preceptor de seus filhos. Desempenhando seu papel com desenvoltura e dedicação, ganha o respeito e a devoção de todos a sua volta. Divide seu tempo entre as aulas às crianças e a paixão proibida com a esposa de seu patrão. Ali aprende parte das convenções sociais, “os bons costumes”, próprias da chamada boa sociedade.
Mesmo ascendendo socialmente, faltava-lhe a fortuna. Acaba se apaixonando perdidamente pela senhora de Rênal, algo que, aparentemente ia contra os seus planos. Nesse momento suas ambições cedem um pouco em nome do amor.
Julien parte para o seminário tão logo seu romance é denunciado ao seu patrão por uma carta anônima, colocando em risco a reputação e a posição social da senhora de Rênal, sempre tida, na pequena cidade, como um espírito superior.
Mais tarde, ao deixar o seminário, por intermédio de seu protetor, e assumir o cargo de secretário na casa do Marquês de la Mole, um dos homens mais influentes, respeitados em Paris e de grande fortuna, se envolve com sua filha, Matihlde de la Mole, que a princípio o rejeita, por ele ser de classe inferior. Desenvolve um plano para conquistá-la, sendo bem sucedido em suas pretensões. 
No final, quando tudo parece ir bem e que desposaria Mathilde, a quem julgava amar perdidamente, e à revelia do pai desta, é “denunciado” por uma carta da senhora Rênal que, movida pelo ciúme, declara ao marquês de la Mole, ter sido seduzida. Este, rompe com a filha e não aceita o casamento. O herói volta a pequena Verriére, cidade onde sua história teve início, e dispara duas vezes contra a sua antiga amante, com intenção de matá-la. Apenas um dos tiros a acerta no ombro. É condenado à guilhotina. Ao receber a visita de seus dois amores, descobre, na verdade, que sempre amou a senhora de Rênal.

Continua...
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