terça-feira, 2 de agosto de 2022

A metamorfose - Franz Kafka (parte I)



 


"A metamorfose" é considerada a mais célebre obra escrita por Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da Literatura. Confusão e ansiedade são o que encontramos na metáfora extrema presente nela.

No centro da novela está a reação da família de Gregor Samsa quando, certa manhã, ele acorda metamorfoseado em asqueroso inseto. Impossibilitado de trabalhar e seguir a vida como antes, a família, ao invés de oferecer-lhe compaixão, fica enojada. Samsa, inseto, é visto agora como ser abjeto e grotesco. O mundo civilizado e racional, representado na família do personagem central, expõe as reações cruéis e desumanas. Resta ao inseto apenas correr pelas paredes, esconder-se debaixo do sofá, passar o tempo.

Gregor Samsa é um caixeiro viajante que trabalha muito. Apesar de odiar o que faz, se sacrifica pela família, seus pais e uma irmã, esquecendo de si mesmo, mais ainda depois que o pai, comerciante, faliu, cinco anos antes. Ao acordar certa manhã, percebe-se metamorfoseado em inseto e seu maior medo é perder o emprego, pois carrega dois fardos: manter a família e pagar a grande dívida contraída pelo pai.

Caso paremos para pensar, existem, no mundo moderno pós-Revolução Industrial, muitos Gergor Samsa, sujeito comum, que trabalha muito, tem pouco tempo para si, responsabilidades maiores do que seu salário e menor que sua carga horária diária, desfrutando pouco da vida e do calor do convívio humano. O que é isso senão transformar-se, aos olhos de um mundo onde a máquina e a sociedade trituram carne humana, num inseto, enquanto outros desfrutam do resultado do seu trabalho? Essa pode ser uma chave de interpretação. Foi aquela levada a cabo pelos marxistas.

Depois de sua transformação em algo grotesco, é abandonado em seu quarto pelos pais e a irmã, Greta. Esta, no início, é a única que se preocupa com ele, deixando-lhe comida, mas, cansada, vai descuidando-se dessa tarefa. Num episódio, em que o inseto, ao contrário dos familiares, apresenta maior humanidade, quando assusta os inquilinos do pai — que lhe alugara um dos quartos do grande apartamento — sua irmã lhe externa ódio e propõe a necessidade de livrar-se dele, pois era fardo para todos. Decepcionado, tendo presenciado a cena em que os pais e a filha conversam, ele recolhesse e morre à mingua.

Embora Gregor renuncie à tentativa de afirmar sua dignidade ou humanidade, emociona-se ao escutar a irmã tocando violino. Seduzido, deixa o quarto, renuncia a sua bestialidade exterior e tenta afirmar sua individualidade, mas, ao contrário, o fato não passa de outra oportunidade para ser alvo de maus-tratos e ofensas.


Continua...

 

 

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