"A metamorfose" é considerada a mais
célebre obra escrita por Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a
história da Literatura. Confusão e ansiedade são o que encontramos na metáfora
extrema presente nela.
No centro da novela está a reação da família de
Gregor Samsa quando, certa manhã, ele acorda metamorfoseado em asqueroso
inseto. Impossibilitado de trabalhar e seguir a vida como antes, a família, ao
invés de oferecer-lhe compaixão, fica enojada. Samsa, inseto, é visto agora
como ser abjeto e grotesco. O mundo civilizado e racional, representado na
família do personagem central, expõe as reações cruéis e desumanas. Resta ao
inseto apenas correr pelas paredes, esconder-se debaixo do sofá, passar o tempo.
Gregor Samsa é um caixeiro viajante que trabalha
muito. Apesar de odiar o que faz, se sacrifica pela família, seus pais e uma
irmã, esquecendo de si mesmo, mais ainda depois que o pai, comerciante, faliu,
cinco anos antes. Ao acordar certa manhã, percebe-se metamorfoseado em inseto e
seu maior medo é perder o emprego, pois carrega dois fardos: manter a família e
pagar a grande dívida contraída pelo pai.
Caso paremos para pensar, existem, no mundo
moderno pós-Revolução Industrial, muitos Gergor Samsa, sujeito comum, que
trabalha muito, tem pouco tempo para si, responsabilidades maiores do que seu
salário e menor que sua carga horária diária, desfrutando pouco da vida e do
calor do convívio humano. O que é isso senão transformar-se, aos olhos de um
mundo onde a máquina e a sociedade trituram carne humana, num inseto, enquanto
outros desfrutam do resultado do seu trabalho? Essa pode ser uma chave de
interpretação. Foi aquela levada a cabo pelos marxistas.
Depois de sua transformação em algo grotesco, é
abandonado em seu quarto pelos pais e a irmã, Greta. Esta, no início, é a única
que se preocupa com ele, deixando-lhe comida, mas, cansada, vai descuidando-se
dessa tarefa. Num episódio, em que o inseto, ao contrário dos familiares,
apresenta maior humanidade, quando assusta os inquilinos do pai — que lhe
alugara um dos quartos do grande apartamento — sua irmã lhe externa ódio e
propõe a necessidade de livrar-se dele, pois era fardo para todos.
Decepcionado, tendo presenciado a cena em que os pais e a filha conversam, ele
recolhesse e morre à mingua.
Embora Gregor renuncie à tentativa de afirmar sua
dignidade ou humanidade, emociona-se ao escutar a irmã tocando violino.
Seduzido, deixa o quarto, renuncia a sua bestialidade exterior e tenta afirmar
sua individualidade, mas, ao contrário, o fato não passa de outra oportunidade
para ser alvo de maus-tratos e ofensas.
Continua...
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