segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Os irmãos Karamázov – Dostoiévski (parte I)



 


Os Irmãos Karamázov é considerado pela crítica não apenas o romance mais importante de Dostoiévski, mas também uma obra-prima. É a mais longa obra do autor russo. Para concluí-la, trabalhou arduamente nela durante três anos, e a concluiu apenas em 1880, às vésperas de sua morte.

O romance pode ser entendido como uma síntese dos vários temas que perseguiram o autor ao longo de toda a sua vida e ponto culminante de sua obra. É ainda entendido com um dos grandes feitos literários de todos os tempos. Por sua profundidade, influenciou sucessivas gerações e pensadores como Nietzsche e Freud.

O livro se destaca dos demais romances de Dostoiévski e levanta o grande tema que o vinha inquietando desde Memórias do subsolo, que consiste no conflito entre razão, identificada muitas vezes com o utilitarismo egoísta, e a fé cristã, os valores altruístas do amor ao próximo.  

N’Os irmãos Karamázov, como anota Joseph Frank, não existe uma figura central, mas cinco. Conta a história de uma família e uma comunidade, e não propriamente de um personagem. O romance serve a sua abordagem sobre a questão da falência da família russa que o preocupava desde a década de 1870. Para ele, o colapso da família era apenas o sintoma de uma doença mais profunda, isto é, a perda entre os russos educados dos valores morais, resultado, por sua vez, da perda de fé em Cristo e em Deus.

Esse já era um tema subjacente aos seus principais romances, mas sem a investigação de todas as desastrosas consequências psicológicas e sociais que derivam do abandono dos valores morais cristãos. Em Memórias do subsolo, Crime e castigo e Os demônios, Dostoiévski tentava mostrar, de forma artística, aquilo que vinha investigando desde a década de 1860, ou seja, as consequências morais e sociais das chamadas ideias niilistas russas, um amálgama local do utilitarismo, do ateísmo e do socialismo utópico. O propósito dos niilistas, na concepção do autor russo, era não apenas combater o despotismo czarista. Queriam também substituir os ideais herdados dos evangelhos e dos ensinamentos de Jesus Cristo por uma moral fundamentada no egoísmo racional.

No tempo em que passou no exterior (1865-1871), teria se convencido de que o niilismo russo não passava de uma transplantação artificial de todas as mazelas ideológicas que minavam a civilização ocidental. O romancista defendia que os intelectuais russos, devido à educação ocidental, tinham-se alienado, e se afastado dos valores e crenças de seu povo. Desta forma, precisavam voltar às suas raízes nativas e redescobrir todos os tesouros ainda escondidos.


Continua...

← ANTERIOR PROXIMA → INICIO

0 comentários:

Postar um comentário

Deixe aqui seu comentário, opinião e sugestões. Um forte abraço!