Os Irmãos Karamázov é considerado pela crítica não apenas o romance mais importante de Dostoiévski, mas também uma obra-prima. É a mais longa obra do autor russo. Para concluí-la, trabalhou arduamente nela durante três anos, e a concluiu apenas em 1880, às vésperas de sua morte.
O romance pode
ser entendido como uma síntese dos vários temas que perseguiram o autor ao
longo de toda a sua vida e ponto culminante de sua obra. É ainda entendido com
um dos grandes feitos literários de todos os tempos. Por sua profundidade,
influenciou sucessivas gerações e pensadores como Nietzsche e Freud.
O livro se destaca dos demais romances de
Dostoiévski e levanta o grande tema que o vinha inquietando desde Memórias do subsolo, que consiste no
conflito entre razão, identificada muitas vezes com o utilitarismo egoísta, e a
fé cristã, os valores altruístas do amor ao próximo.
N’Os
irmãos Karamázov, como anota Joseph Frank, não existe uma figura central,
mas cinco. Conta a história de uma família e uma comunidade, e não propriamente
de um personagem. O romance serve a sua abordagem sobre a questão da falência
da família russa que o preocupava desde a década de 1870. Para ele, o colapso
da família era apenas o sintoma de uma doença mais profunda, isto é, a perda
entre os russos educados dos valores morais, resultado, por sua vez, da perda
de fé em Cristo e em Deus.
Esse já era um tema subjacente aos seus
principais romances, mas sem a investigação de todas as desastrosas
consequências psicológicas e sociais que derivam do abandono dos valores morais
cristãos. Em Memórias do subsolo, Crime e castigo e Os demônios, Dostoiévski tentava mostrar, de forma artística,
aquilo que vinha investigando desde a década de 1860, ou seja, as consequências
morais e sociais das chamadas ideias niilistas russas, um amálgama local do
utilitarismo, do ateísmo e do socialismo utópico. O propósito dos niilistas, na
concepção do autor russo, era não apenas combater o despotismo czarista. Queriam
também substituir os ideais herdados dos evangelhos e dos ensinamentos de Jesus
Cristo por uma moral fundamentada no egoísmo racional.
No tempo em que passou no exterior (1865-1871),
teria se convencido de que o niilismo russo não passava de uma transplantação
artificial de todas as mazelas ideológicas que minavam a civilização ocidental.
O romancista defendia que os intelectuais russos, devido à educação ocidental,
tinham-se alienado, e se afastado dos valores e crenças de seu povo. Desta
forma, precisavam voltar às suas raízes nativas e redescobrir todos os tesouros
ainda escondidos.
Continua...
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