O velho Karamázov encarnaria a própria síntese
do vício pessoal e social, ao negligenciar os três filhos tidos de duas
esposas, que crescem num ambiente de inexistência do núcleo familiar que,
segundo o autor, tornava-se cada vez mais típica da sociedade russa educada.
Personagens como o velho Karamázov e Dmítri, seu primeiro filho, permitem a
Dostoiévki discutir a ampla natureza russa, que oscila entre extremos morais e
psicológicos. Dmítri, por exemplo, é perpassado por forças naturais que pode
facilmente torná-lo escravo de seus instintos e de suas paixões.
Ivan, por sua vez, representa a suprema dramatização
do conflito entre fé e razão, próprio cerne do livro. Todo o romance é, nas
palavras do próprio autor, uma resposta a Ivan e sua fórmula de Deus não existir
e nem a imortalidade e, por isso, tudo ser permitido.
Em cada uma das principais personagens há o confronto
e uma crise que exigirá delas uma escolha entre uma e outra. Em todos esses
momentos prevalecerá a fé de algum tipo, não especificamente moral e religiosa,
como ocorrera com Aliocha, mas uma fé que encarna um aspecto da moral do amor e
da autotranscedência do egoísmo.
Há, ainda, nos capítulos sobre o inquérito e do
julgamento de Dmítri uma crítica premente ao sistema jurídico Russo, que havia
passado por uma reforma no período. Dostoiévski demonstra como um motivo
pessoal, como a vaidade do promotor, poderia impedir a promotoria de procurar a
verdade de forma imparcial. O romancista russo criticava a adoção, pela justiça
russa, de normas abstratas ocidentais, que consistiam, em boa parte, na reunião
de provas materiais. A crença exclusiva nessas provas impedia a descoberta da
verdade, que poderia ser revelada por uma percepção mais direta do caráter
humano. Não se dá crédito às palavras de Dmítri, ao negar veementemente o
assassinato do pai. Há aqui, também, uma réplica do conflito entre fé e razão.
As provas materiais, racionais, reunidas pelos investigadores, eliminam
qualquer necessidade de pensarem em atribuir peso à palavra do acusado, um
homem honrado, apesar de ser lascivo.
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