quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Os irmãos Karamázov - Dostoiévski (Parte III)



Sentido do Romance



Os personagens e fatos criados, em Dostoiévski, são sempre coloridos pelo contexto ideológico particular em que estava imerso no cenário russo contemporâneo. Uma fonte de inspiração do autor é a vida real. Nesse caso, os jornais eram seus documentos favoritos.

Na visão dele, o povo russo possuía uma fé religiosa que não só o resgataria do desastre, mas também capacitá-lo-ia a liderar o caminho para uma nova era cristã da regeneração do gênero humano. O cristianismo herdado pelos camponeses – tinha convicção - estava impregnado neles. O povo russo, representado pelos camponeses, portanto, possuía todas as virtudes cristãs que a fé lhes ensinava.

Uma das qualidades do autor russo é sua capacidade de retratar personagens com um realismo social e psicológico sem paralelo na literatura e de encadear seus conflitos e dilemas numa investigação dos problemas da existência humana. Convencido de que o único cristianismo verdadeiro seria encontrado na ortodoxia russa, Dostoiévski busca provas que confirmem esse seu ponto de vista. Os seus personagens, sob influência de ideias avançadas, cometem crimes terríveis, como Raskólnikov de “Crime e castigo”, ou mergulhados nas piores profundezas da degradação, como Stavróguin de “Os demônios”. Mas, em determinado momento de suas vidas cheias de tormentos, encontram a visão de uma possível redenção por meio dos efeitos moralmente purificados do amor cristão. Nos dois casos citados, “Crime e Castigo” e “Os demônios”, o autor russo analisa a tragédia daqueles membros da intelectualidade que tinham se afastado de suas origens cristãs e, assim, de seu povo, o povo russo, o único capaz de redimir o mundo contra a decadência moral do Ocidente.

Em “Os irmãos Karamázov,” os principais personagens enfrentam a necessidade de transcender os limites do egoísmo pessoal num ato de autoentrega espiritual, na transcendência de seus interesses imediatos centrados no ego. Para Dostoiévski, a razão, que no plano moral equivalera ao utilitarismo e o egocentrismo, estava arraigado profundamente no pensamento russo radical da época. O poder do romance reside justamente na descrição da luta moral-psicológica de cada uma das personagens principais para atender a voz da consciência.

Continua...


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