quinta-feira, 30 de maio de 2024

O jogador – Dostoiévski: há pessoas tão pobres, só têm dinheiro!




Há um romance de Dostoiévski, dos menores dentro de sua extensa obra, que traduz muitos dos desejos buscados pela maioria das pessoas no mundo em que vivemos. O personagem central é Aleksei Ivánovitch. É um nobre russo, jovem e culto e que trabalha como tutor na casa de um general, Zagoriánski, que está vivendo na Alemanha, hospedado em um hotel. Está apaixonado pela enteada do general, Praskóvia, chamada de Polina por seus familiares. O romance constitui a linha central do enredo. Quase todos os personagens agem movidos unicamente por interesses materiais.

Aleksei é atormentado pelo sentimento de inferioridade social, por ser humilde tutor na casa do General. Apesar de sua condição de nobre russo e culto, recebe um tratamento desdenhoso, pouco melhor que um servo. Pretendendo o “amor” de Polina, que mantém um romance por interesse com outros, acredita que se ganhar no jogo, na roleta, e ficar rico, poderá conquistá-la. Estudando a roleta por um bom tempo, percebe uma regularidade matemática na sequência dos números sorteados. Ganha, portanto, muito dinheiro, e quebra o cassino.

Não se importava com o dinheiro. Encarava-o apenas como um meio para atingir um fim: ter Polina em seus braços. Aqui, creio, está a essência do romance de Dostoiévski. Por que as pessoas se matam, quase em desespero, para acumular tanto dinheiro se não precisam de muito? E a resposta de Dostoiévski, por meio de um personagem de seu romance, é a de que as pessoas buscam o dinheiro não simplesmente pelo dinheiro em si, mas pelo poder que ele exerce sobre as pessoas. Os objetos, o sapato, a roupa, a casa, todos comprados com dinheiro, são signos que impõem poder e distinção, respeito, admiração, sucesso, inveja, como se tivessem alma, aura, essência, espírito!

O dinheiro, em grande quantidade, não interessava a Aleksei Ivánovitch. Queria-o apenas pelo poder que ele poderia exercer sobre Polina. Percebendo que a maioria das pessoas agiam da mesma forma, pouco lhe importava se teria o amor ou não daquela que queria nos seus braços. Apenas a queria perto de si. Já que todas as pessoas são tão iguais, agindo por interesses próprios, de que importava o amor?

Desprezado pelas pessoas, por não ter tanto dinheiro, era o único a dar grande valor ao conhecimento, à leitura, à erudição, dado ser um homem culto. Talvez por isso, não se importasse tanto com a materialidade da moeda, acumulá-la não parecia a coisa mais importante do mundo.

Esse é o ponto central. A maioria das pessoas é muito pobre, tem apenas dinheiro. Isso é muito pouco! Como as pessoas são tão vazias! Elas ou passam a maior parte de suas vidas correndo desesperadamente atrás dele, sendo capazes de quase tudo para consegui-lo, pensando nele o tempo todo, ou maquinando uma forma de atraí-lo, pouco se importando se isso será, no final, bom ou ruim para si mesmas. Parece-lhes tão óbvia, natural, a relação direta entre bem-estar e dinheiro, felicidade e dinheiro, que não se dão ao luxo de, pelo menos, refletir sobre isso. Talvez desprezem o livro (“um montão, um amontoado de muita coisa escrita”), o conhecimento, a ciência, a literatura, o saber.

Talvez a riqueza esteja exatamente naquilo que é mais desprezado! Aleksei Ivánovitch talvez estivesse certo!

Você encontra a obra O jogador e outros romance de Dostoiéviski na Livraria Ipuense: https://www.instagram.com/liivraria_ipuense/

           

  

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