sábado, 15 de junho de 2024

A metamorfose - Franz Kafka



 

A Metamorfose: apenas 19,90 na Livraria Ipuense

A metamorfose é considerada a mais célebre obra de Franz Kafka e uma das mais importantes de toda a história da Literatura. Confusão e ansiedade são o que encontramos na metáfora extrema presente nela.

No centro da novela está a reação da família de Gregor Samsa quando, certa manhã, ele acorda metamorfoseado em asqueroso inseto. Impossibilitado de trabalhar e seguir a vida como antes, a família, ao invés de oferecer-lhe compaixão, fica enojada.

Samsa, inseto, é visto agora como ser abjeto e grotesco. O mundo civilizado e racional, representado na família do personagem central, expõe as reações cruéis e desumanas. Resta ao inseto apenas correr pelas paredes, esconder-se debaixo do sofá, passar o tempo.

Gregor Samsa é um caixeiro viajante que trabalha muito. Apesar de odiar o que faz, se sacrifica pela família, seus pais e uma irmã, esquecendo de si mesmo, mais ainda depois que o pai, comerciante, faliu, cinco anos antes. Ao acordar certa manhã, percebe-se metamorfoseado em inseto e seu maior medo é perder o emprego, pois carrega dois fardos: manter a família e pagar a grande dívida contraída pelo pai.

Caso paremos para pensar, existem, no mundo moderno pós-Revolução Industrial, muitos Gergor Samsa, sujeito comum, que trabalha muito, tem pouco tempo para si, responsabilidades maiores do que seu salário e menores que sua carga horária diária, desfrutando pouco da vida e do calor do convívio humano.

O que é isso senão transformar-se, aos olhos de um mundo onde a máquina e a sociedade trituram carne humana, num inseto, enquanto outros desfrutam do resultado do trabalho das massas? Essa pode ser uma chave de interpretação. Foi aquela levada a cabo pelos marxistas.

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Depois de sua transformação em algo grotesco, é abandonado em seu quarto pelos pais e a irmã, Greta. Esta, no início, é a única que se preocupa com ele, deixando-lhe comida, mas, cansada, vai descuidando-se dessa tarefa. Num episódio, em que o inseto, ao contrário dos familiares, apresenta maior humanidade, quando assusta os inquilinos do pai — que lhe alugara um dos quartos do grande apartamento — sua irmã lhe externa ódio e propõe a necessidade de livrar-se dele, pois era fardo para todos.

Decepcionado, tendo presenciado a cena em que os pais e a filha conversam, ele recolhesse e morre à mingua.

Embora Gregor renuncie à tentativa de afirmar sua dignidade ou humanidade, emociona-se ao escutar a irmã tocando violino. Seduzido, deixa o quarto, renuncia a sua bestialidade exterior e tenta afirmar sua individualidade, mas, ao contrário, o fato não passa de outra oportunidade para ser alvo de maus-tratos e ofensas. 

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Mais sobre a obra

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Há, nessa pequena obra, pelo menos três transformações e uma inversão: neste caso, a novela inicia-se com o clímax, puxado para o início. A primeira mudança refere-se à metamorfose de Sansa em inseto. Se antes era o esteio da família, agora, sem poder trabalhar torna-se entulho que, aos poucos, será renegado como coisa imprestável. Em segundo lugar, sua família também se transforma, sobretudo sua irmã.  Se no início ela resolve ajudá-lo, no final propõe aos pais livrar-se dele. Para isso, seria preciso, diz ela, considerá-lo não humano, seu irmão, mas apenas um inseto. Em terceiro lugar, a metamorfose tira da família sua sustentação econômica, baseada na exploração do rapaz, mas, por outro lado, representa, para este, a liberdade, o fim da condição de escravo.

Não se pode tomar o enredo de A metamorfose ao pé da letra, quer dizer, de maneira literal. Não passa de uma metáfora, enquanto tal, de valor simbólico, abrindo-se a muitas interpretações, nenhuma definitiva. Afirmo ser impossível estabelecer de uma vez por todas o que o autor pretendeu com o livro, mas é coerente com seu método de produção ficcional, aberto. Há, me parece, no romance, uma clara intenção de estabelecer uma inversão em que o inseto é humano e os humanos não passam de insetos, isso parece evidente na cena em que a irmã de Gregor toca violino para os inquilinos de seus pais. Nenhum deles mostra-se interessando, pelo contrário, escuta a música como se fosse um fardo, apenas insetos, talvez, enquanto Gregor, ao contrário, é seduzido pela arte e consegue perceber, como seu pai, o desdém dos inquilinos. Ao contrário de seu progenitor, que não toma nenhuma atitude para defender a filha, ele resolve ajuda-lo, sendo, pois descoberto e tornando-se pivô da saída dos inquilinos. É então que o fato de ser um farto para a família se revela depois de ter trabalhado tanto para sustentá-la.

Embora o enredo seja absurdo, pois fala da história de um caixeiro-viajante transformado em um inseto, suscita reflexões. Se antes era ele o salvador da sua família, trabalhando para sustentar um pai e mãe velhos e uma irmã de dezessete anos, ao se metamorfosear passa a representar um fardo muito grande para a família a ponto de, no final, desejar livrar-se dele. Mas, e isso é o mais impressionante, o autor narra a história daquela família com um realismo revoltante, como se, de fato, fosse verdadeira ou que se tratasse de algo verossimilhante.

 

 

 

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