Negras cozinheiras, Vendedoras de Angu, de Jean Baptiste Debret. In: Viagem pitoresca e histórica ao Brasil. |
Negros no Ceará e Ipu
Pesquisas mostraram que o número de cativos no Ceará girava em torno de
4% e 5% de sua população, em meados do século XIX. Esta mesma cifra é aquela
referente à cidade de Ipu, no mesmo período. No entanto, cerca de 60,7% da
população cearense, no início do século XIX, era composta por afrobrasileiros. Supõe-se,
portanto, que entre 40% a 60% da população ipuense, em meados do século XIX,
era formada por esse grupo.
No censo de 1818, apresentado pelo governo provincial, 34% dos habitantes
do Ceará reuniam os brancos, enquanto os pretos e mulatos livres somavam 56%, e
os índios, 10% da população. Estes números pouco se alterariam posteriormente.
À medida que avançava o século XVIII e a ocupação do Ceará se efetivava,
consolidou-se um espaço de trabalho que atraiu um contingente de homens livres,
pobres, negros e pardos, vindos de outras províncias. Muitos se tornaram
vaqueiros, trabalhando no regime de quarta, outros se tornaram moradores e
agregados das fazendas de gado.
Em meados do século XVIII, com o surto da lavoura algodoeira, acentuou-se
uma demanda maior de mão de obra, configurando-se uma presença mais
significativa de trabalhadores livres e, também, de escravos africanos. Na
segunda metade do século XIX um novo surto da cotonicultura atraiu braços para
o Ceará, em especial de escravos que vinham de outras províncias, uma vez que o
ano de 1850 marcou o fim do tráfico intercontinental de escravos. É também
nesta época que o Ceará exporta escravos para outras províncias, dentro do chamado
tráfico interprovincial.
Em Ipu, o número de escravos cresceu após o fim do tráfico negreiro e
isso está relacionado, primeiro, a um surto de crescimento econômico da região
que teve no algodão seu principal produto. Se muitas regiões cearenses estavam
exportando escravos para outras províncias, a cidade de Ipu passou a atraí-los,
necessitada que estava de mão de obra. Porém, muitos negros libertos foram
atraídos para a Terra de Iracema, e
as explicações para isso são de ordem diversa.
Em primeiro lugar, corria mundo a notícia de que existiam minas de ouro
em Ipu. A busca pelo Eldorado trouxe,
sem dúvida, para a vila, muitos aventureiros, escravos fugitivos e negros
libertos. Não à toa que um “preto velho”, vindo de Minas Gerais descobriu e extraiu
porções de ouro de elevado quilate, vendendo-o aos ourives da cidade e outras
pessoas, das quais, ao “padre Francisco Correia de Carvalho e Silva” que mandou
“fazer as fivélllas de seus sapatos”.
Em segundo lugar, o próprio crescimento econômico da cidade atraiu braços
livres e cativos. A exploração de algodão gerou postos de trabalho e rendas
para a cidade. Isso levou a uma dinamização das atividades. Havia demanda por
serviços domésticos, carpinteiros, barbeiros etc.
Existiram, ainda nesse período, alguns engenhos de produção de aguardente
e rapadura que demandavam também mão de obra. Com a circulação de capitais
teria surgido uma procura maior por artigos produzidos nos engenhos. Isso deve
ter levado a um maior emprego do braço negro (livre e assalariado).
É justamente nesse momento que há um aumento significativo da população
negra e afrodescendente, fruto, também, do crescimento vegetativo, isso pelo
próprio aumento da importância da mão de obra e do elevado preço da “peça
africana”.
Continua...
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