Jardim de Iracema. Fotografia do acervo do prof. Mello |
Da calçada do antigo Palacete Iracema, na rua Cel.
Liberalino, o viajante vê, a poucos metros de distância, a atual Praça de Iracema, bem no coração
pulsante da cidade, onde, em 1927 foi inaugurado o Jardim de Iracema, por iniciativas de homens desejosos de espaços
de sociabilidades modernas. No centro do Jardim
foi erguido um coreto onde, aos domingos, as bandas de música do Centro Artístico Ipuense[1] e da Euterpe Ipuense[2] realizavam retretas para o deleite de
pessoas abastadas e que se reuniam para sociabilizar-se e respirar os ares de
um mundo novo buscado, sem ser incomodados pelo “populacho”, mantidos a
distância pela força policial. O viajante se decepcionaria, também, ao saber
que aquele logradouro foi destruído e reconstruído quatro sucessivas vezes e
que a Praça de Iracema[3], atual, foi inaugurada apenas nos
primeiros anos do século XXI. É escusado dizer que a atual praça nada lembra a
antiga ali erguida.
Seguindo ainda por uma das duas vias
que ligam a Estação Ferroviária ao centro, o viajante chega a uma das duas
esquinas do Mercado Público. Talvez se impressione com a robusteza do comércio,
apesar de seu crescimento lento atual: para qualquer lado que olhe avista um
mar de estabelecimentos comerciais e um burburinho constante, em alguns dias
ensurdecedor, de veículos e pessoas circulando, algo pouco característico das
pequenas cidades do interior do Ceará.
Continua...
[1] O Centro Artístico Ipuense foi fundado em 29 de junho de 1918. Era uma
sociedade anônima e, segundo seus estatutos, beneficente, cujo objetivo era o
“alevantamento physico, intellectual e moral de seos associados”. Como o Grêmio e o Gabinete de Leitura, congregava parte da “escól social” local.
Realizavam-se em seus salões as concorridas soirées
e contava com uma banda de música, que tocava nos espaços de sociabilidade,
reunindo os abastados e letrados da cidade. Ver Estatutos do Centro Artístico Ipuense. Ipu: Typographia do Campo,
1921, p. 1. Para uma discussão mais
detalhada sobre esta associação ver FARIAS FILHO, Antonio Vitorino. O Discurso do progresso e o desejo por uma
outra cidade. imposição e conflito em Ipu-CE (1894-1930). 2009. 151 f.
Dissertação (Mestrado Acadêmico em História e Culturas) - Centro de
Humanidades, Universidade Estadual do Ceará. Fortaleza.
[2] A Euterpe Ipuense foi outra associação
fundada na segunda década do século XX, com o objetivo de desenvolver em seus
sócios o gosto pela “boa música” e para prestar “benefícios ao seu torrão
natal”, segundo seus estatutos. Possuía uma banda de música sempre solicitada
para tocar nos bailes das associações elitistas locais e nas comemorações
oficiais do município. Idem.
[3] Em
1961, na administração do prefeito Antônio Pereira de Farias (1960-1966), o Jardim de Iracema passou por uma ampla
reforma, sendo o coreto destruído. Em seu lugar foi construído um lago e a
escultura de um cisne. Em seguida, o cisne deu lugar a uma escultura da índia
Iracema (1965), que até bem pouco podia ser vista. A estátua foi presente do
prefeito de Fortaleza, Cel. Murilo Borges, uma réplica de outra erguida na
Praia de Iracema, em homenagem ao centenário do romance Iracema, de José
de Alencar. Esta também foi destruída quando a praça passou por uma nova
reforma, no governo do Prefeito Francisco Eufrásio Mororó (1982-1988), no ano
de 1985. Mais uma vez, houve nova
reforma que destruiu totalmente a praça anterior. Finalmente, no governo
municipal de Maria do Socorro Pereira Torres (2005-2008), a praça foi,
novamente, destruída e em seu lugar foi erguida uma nova, a atual Praça de Iracema, com as estátuas de
Iracema e do Guerreiro Branco, que não lembram em nada a singeleza do antigo
Coreto e a imponente escultura da Avenida de Iracema. Jardim de Iracema – ou
Avenida do Ipu. Os anos de Ouro do Ipu. Jornal
dos Tabajaras. Ipu, p. 3, dez. 1996.
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