Por: Emanuel Sousa – o poeta do absurdo
Reza
a lenda que após um governo conturbado de quatro anos de desmandos e
manipulações, o famigerado vampiro Conde Drácula Passagem Molhada teria surrupiado
numa noite de lua cheia todos os vasos sanitários de Ipupolândia. Desde então, uma aflição crônica sem tamanho tomou conta de sua população sedenta: onde
defecar? Onde meter merda, se não existem vasos sanitários disponíveis para
todos? Além de ser morta-viva, e de
possuir espíritos de porco, carrapato e morcego, a população de Ipupolândia
vivia sofrendo dores crônicas de barriga, pois havia devorado coisas indigestas
nas últimas eleições: cimento, telhas, tijolos, remédios, dinheiro sujo e toda
sorte de putarias que os vampiros-mores
(vereadores e prefeitos) distribuem entre os dementes do povo e a sua parasitária
classe média idiota.
Sendo assim, sem os vasos sanitários,
era comum muitas pessoas defecarem em qualquer lugar de Ipupolândia: havia
merda no mercado, na secretaria de obras, na câmara, nos hospitais, nas
escolas, nas rádios, na cachoeira e principalmente nas ruas e nos logradouros
mais distantes e dispersos do lugarzinho tacanho e perdido na geografia da
terra de São Nunca. Certa feita, uma rádio local transmitiu ao vivo um vampiro-mor
defecando em cima das cabeças de toda a estúpida população de bairros
paupérrimos.
Defecava-se
em todas as instituições e instâncias da cidade. Não havia nem papel, nem água
para serem limpos tantos cús de tantos cagões contumazes que defecavam ao mesmo
tempo. A cachoeira que banhava Ipupolândia era uma queda d’água de merda, diziam, e merda fresca, cagada de véspera!
Um fedor nauseabundo – fedor de bosta seca, em adiantado estado de decomposição
– percorria todos os estabelecimentos da cidadezinha de modo peremptório e
contundente. O fedor ardia no nariz dos mortos-vivos, parecia saído de todos os
lugares e de lugar nenhum! O fedor viria do executivo? Do legislativo? Do
judiciário? Da população idiota? Ou vinha mesmo da sociedade, das academias,
das escolas, dos hospitais, do comércio, das famílias tradicionais? Quem
saberia dizer ao certo? Ninguém saberia estas coisas. O certo mesmo é que, por
todos os lugares, as pessoas – não os mortos-vivos da cidadela - sentiam a
necessidade de defecar e não havia por lá vasos sanitários disponíveis para
isso! Não havia jeito: a merda vinha fresca e fortuita em todos os lugares e em
todas as direções!
O
cagador-mor, o vampiro conhecido pelo nome de Conde Drácula Passagem Molhada,
fora flagrado pela polícia Federal enquanto tentava dar sumiço nas pistas que
apontavam para a sua culpa no crime de sumir com os vasos, mas a população
idiota o defendeu (-Ele é nosso pai, diziam) e ele fora ovacionado nos ombros
pelas ruas da estúpida Ipupolândia! Os mortos-vivos imbecis do lugar, depois de
saberem que fora o grande causador das dores de barriga, da diarreia crônica e
da cagadeira da população fora o próprio mentecapto, mesmo assim fizeram juras
de amor a sua pessoa. Disso se deduz que muito mais do que uma cidadela,
Ipupolândia é um chiqueiro (ou será um curral?). O cheiro de merda impregnou-se no ar de tal
forma que se poderia dizer que ele passou a fazer parte da alma e da cultura de
sua gente estúpida e esquálida. A população de Ipupolância nasceu e cresceu na
merda (merda grossa e merda fina). Sonha com uma merda melhor (merda fausta), e
quer viver vegetando na merda (merda gorda). Ela possuiria também a alma de
rola-bosta? Esta é a verdade verdadeira. E até a próxima merda!
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